Ideia já se espalhou por mais de 15 países e pode beneficiar 1 milhão de pessoas com carência de energia elétrica.
A ideia de Moser já é utilizada em mais de 15 países onde a energia elétrica é escassa (Foto: BBC) |
Alfredo Moser poderia ser considerado um Thomas Edison dos dias de hoje, já que sua invenção
também está iluminando o mundo.
Em 2002, o mecânico da cidade mineira de Uberaba,
que fica a 475 km da capital Belo
Horizonte, teve seu próprio momento de "eureka" quando encontrou a
solução para iluminar a própria casa em um dia de corte de energia.
Para isso, ele utilizou nada mais do que garrafas
plásticas pet com água e uma pequena quantidade de cloro.
Nos últimos dois anos, sua ideia já alcançou
diversas partes do mundo e deve atingir a marca de 1 milhão de casas usando a
"luz engarrafada".
Mas, afinal, como a invenção funciona? A reposta é
simples: pela refração da luz do sol em uma garrafa de dois litros cheia
d'água.
"Adicione duas tampas de cloro à água da
garrafa para evitar que ela se torne verde (por causa da proliferação de
algas). Quanto mais limpa a garrafa, melhor", explica Moser.
Ele protege o nariz e a boca com um pedaço de pano
antes de fazer o buraco na telha com uma furadeira. De cima para baixo, ele
então encaixa a garrafa cheia d'água.
"Você deve prender as garrafas com cola de
resina para evitar vazamentos. Mesmo se chover, o telhado nunca vaza, nem uma
gota", diz o inventor.
Outro detalhe é que a lâmpada funciona melhor se a
tampa for encapada com fita preta.
"Um engenheiro veio e mediu a luz. Isso
depende de quão forte é o sol, mas é entre 40 e 60 watts", afirma Moser.
A inspiração para a "lâmpada de Moser"
veio durante um período de frequentes apagões de energia que o país enfrentou
em 2002. "O único lugar que tinha energia eram as fábricas, não as casas
das pessoas", relembra.
Moser e seus amigos começaram a imaginar como
fariam um sinal de alarme, no caso de uma emergência, caso não tivessem
fósforos.
O chefe do inventor sugeriu na época utilizar uma
garrafa de plástico cheia de água como lente, para refletir a luz do sol em um
monte de mato seco e, assim, provocar fogo.
A ideia ficou na mente de Moser que, então, começou
a experimentar encher garrafas para fazer pequenos círculos de luz refletida.
Não demorou muito para que ele tivesse a ideia da lâmpada.
"Eu nunca fiz desenho algum da ideia. Essa é
uma luz divina. Deus deu o sol para todos e luz para todos. Qualquer pessoa que
usar essa luz economiza dinheiro. Você não leva choque e essa luz não lhe custa
nem um centavo", ressalta.
Pelo mundo
O inventor já instalou as garrafas de luz na casa de vizinhos e até no supermercado do bairro. Ainda que ele ganhe apenas alguns reais instalando as lâmpadas, é possível ver pela casa simples e pelo carro modelo 1974 que a invenção não o deixou rico. Apesar disso, Moser aparenta ter orgulho da própria ideia.
O inventor já instalou as garrafas de luz na casa de vizinhos e até no supermercado do bairro. Ainda que ele ganhe apenas alguns reais instalando as lâmpadas, é possível ver pela casa simples e pelo carro modelo 1974 que a invenção não o deixou rico. Apesar disso, Moser aparenta ter orgulho da própria ideia.
"Uma pessoa que eu conheço instalou as
lâmpadas em casa e dentro de um mês economizou dinheiro suficiente para comprar
itens essenciais para o filho que tinha acabado de nascer. Você pode
imaginar?", comemora Moser.
Carmelinda, mulher de Moser há 35 anos, diz que o
marido sempre foi muito bom para fazer coisas em casa, até mesmo para construir
camas e mesas com madeira de qualidade.
Mas parece que ela não é a única que admira o
inventor. Illac Angelo Diaz, diretor executivo da fundação de caridade
MyShelter, nas Filipinas, parece ser outro fã.
A instituição MyShelter se especializou em
construção alternativa, criando casas sustentáveis feitas de material
reciclado, como bambu, pneus e papel.
Para levar à frente um dos projetos do MyShelter,
com casas feitas totalmente com material reciclado, Diaz disse ter recebido
"quantidades enormes de garrafas".
"Enchemos as garrafas com barro para criar as
paredes. Depois enchemos garrafas com água para fazer as janelas", conta.
"Quando estávamos pensando em mais coisas para
o projeto, alguém disse: 'Olha, alguém fez isso no Brasil. Alfredo Moser está
colocando garrafas nos telhados''', relembra Diaz.
Seguindo o método de Moser, a entidade MyShelter
começou a fazer lâmpadas em junho de 2011. A entidade agora treina pessoas para
fazer e instalar as garrafas e assim ganhar uma pequena renda.
Nas Filipinas, onde um quarto da população vive
abaixo da linha da pobreza (de acordo com a ONU, com menos de US$ 1 por dia) e
a eletricidade é muito cara, a ideia deu tão certo, que as lâmpadas de Moser
foram instaladas em 140 mil casas.
As luzes "engarrafadas" também chegaram a
outros 15 países, entre eles Índia, Bangladesh, Tanzânia, Argentina e Fiji.
Diaz disse que atualmente podem-se encontrar as
lâmadas de Moser em comunidades que vivem em ilhas remotas. "Eles afirmam
que viram isso (a lâmpada) na casa do vizinho e gostaram da ideia".
Pessoas em áreas pobres também são capazes de
produzir alimentos em pequenas hortas hidropônicas, usando a luz das garrafas
para favorecer o crescimento das plantas. Diaz estima que pelo menos 1 milhão
de pessoas vão se beneficiar da ideia até o começo de 2014.
"Alfredo Moser mudou a vida de um enorme
número de pessoas, acredito que para sempre", enfatiza o representante do
MyShelter.
"Ganhando ou não o Prêmio Nobel, queremos que
ele saiba que um grande número de pessoas
admira o que ele está fazendo."
Mas será que Moser imagina que sua invenção
ganharia tamanho impacto? "Nunca imaginei isso, não", diz,
emocionado. "Me dá um calafrio no estômago só de pensar nisso."
Moser criou a lâmpada durante a série de apagões que o Brasil enfrentou em 2002 (Foto: BBC) |
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