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Lademir Filippin, locutor do Palácio do Planalto, durante entrevista para a Folha, na sua residência |
Só
as paredes do Palácio do Planalto sabem bem o que os ex-presidentes João
Figueiredo, Itamar Franco, Fernando Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma têm
em comum. Não é a amplitude de acordos políticos, mas a voz grave presente nas
cerimônias oficiais.
Lademir
Filippin, 50, é conhecido como o "Lombardi do Planalto", em alusão à
mais famosa voz oculta do país, a do locutor Luiz Lombardi Neto, o já morto
alter ego sonoro de Silvio Santos.
Há
quase 30 anos, Filippin faz a abertura e o encerramento dos pronunciamentos
oficiais, cerimônias e eventos da Presidência da República.
Ele
conta que foram poucas as gafes, como a troca do nome de um ex-presidente doBanco Central.
"Por três vezes eu acertei, mas acabei falando um Francisco Grow no lugar
de Gros. O presidente Collor parou a cerimônia e me mandou corrigir. Eu me
senti mal, pequeno", conta.
A
outra derrapada ocorreu com Fernando Henrique Cardoso, e o alvo era o então
ministro Ronaldo Sardenberg. "Eu disse: com a palavra, o ministro
Rolando... Em vez de brigar, o presidente deu só uma gargalhada e o ministro
completou com um 'ainda bem que não me chamou de Rolando Lero'."
Ele
conta um caso curioso. Após FHC ser eleito, foi apresentado ao novo presidente
pelo ex-chefe Itamar Franco. Para sua surpresa, o tucano disse algo que se
confirmou adiante: "Prepare-se para ficar aqui oito anos".
Nenhum
deslize, porém, foi capaz de substituir por muito tempo o mais longevo mestre
de cerimônias do Palácio. Na sua ausência temporária, durante parte do segundo
mandato de Lula, oito profissionais passaram por lá.
O
locutor lembra também de uma frase do presidente Barack Obama, durante a visita
oficial do americano ao Brasil: "Ele me disse que eu tinha uma voz
maravilhosa".
Filippin
afirma não possuir partido político, mas garante ter votado em todos os
presidentes eleitos para os quais trabalhou no período democrático, à exceção
de Collor: "Acho que votei no [Leonel] Brizola", revela ele.
Collor
foi seu mais rigoroso chefe. Diz que aprendeu o equivalente a 20 anos em dois
anos ao lado dele. A amigos, Filippin já confidenciou que o mandatário era,
apesar do gênio difícil, o preferido.
Cauteloso
nos comentários a respeito dos chefes, o mestre de cerimônias diz que Itamar
Franco era o mais chato e reservado; Fernando Henrique, o mais emocional,
"um gentleman". Lula, o "brigão"; e Dilma, a mais exigente.
PERFECCIONISTA
Ele
dá voltas para falar da presidente e passa alguns minutos em silêncio tentando
encontrar definição de seu estilo: "As mulheres são mais
perfeccionistas", resumiu.
Quando
indagado sobre a fama de durona de Dilma, "Lombardi" até arrisca
dizer que sim, mas garante nunca ter sido alvo dos já antológicos pitos da
presidente.
A
"voz do Planalto" cumpre um ritual cartesiano antes de cada
apresentação: toma chá e bebe um copo de água morna pela manhã.
Sabe
qual tom utilizar nos salões Oeste, Leste, no Salão Nobre e na sala de
Audiências do Palácio, todas com acústica diferente. Foi assim na recente
cerimônia de corpo presente do arquiteto Oscar Niemeyer. Ali, adotou um timbre
tão dramático que o chefe do cerimonial, Renato Moska, classificou-o de
"cavernoso".
A
frase que mais ecoou no Planalto não foi "brasileiros e brasileiras",
de Sarney, nem o "nunca antes na história deste país", de Lula; mas
um gravíssimo, e solene, "está encerrada esta cerimônia".
Fonte: Folha de São Paulo
Andre Borges/Folhapress
Um comentário:
grato amigo,
www.filippincerimonial.com.br
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