Venda do Estádio Jair de Siqueira Bittencourt parece ser
inevitável
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Foto: divulgação |
Este ano, o
Itaperuna Esporte Clube deveria disputar a Série C do Campeonato Carioca de
Futebol Profissional. Dívidas,falta de patrocinadores, falta de funcionários e
atletas (profissionais e amadores), são alguns dos muitos problemas que a atual
gestão do clube tem pela frente e, o clube, não disputará o campeonato previsto
para começar no dia 11 de maio. Para complicar ainda mais a situação, a venda
do Estádio Jair de Siqueira Bittencourt parece ser inevitável.
O 'Jairzão',
carinhosamente apelidado pelos torcedores itaperunenses, precisa de uma série
de reformas e está bem longe de ser aquele 'Jairzão' de outros tempos, cuja
região, orgulhava-se de ser o ponto de encontro dos apaixonados pelo bom
futebol. Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, América, Bangu, Goytacaz,
Americano, Clube do Remo, Sport Club do Recife, dentre tantos outros, fizeram
partidas memoráveis contra o Porto Alegre e depois, contra o Itaperuna (que
surgiu com a fusão de Comércio e Indústria Atlético Clube, Unidos Atlético
Clube e Porto Alegre Futebol Clube). Hoje, olhar as arquibancadas vazias e sem
condições de receber os torcedores, é algo que dói na alma, ofende os 'deuses
do futebol' e deixa uma cidade 'órfã', 'órfã da bola'.
Só em lembrar de o
fim do Estádio Jurandir Nunes, casa do Comércio e Indústria Atlético Clube, que
foi totalmente loteado (para os que não conheceram, o estádio era ao lado da
rodoviária), percebe-se que o futuro do 'Jairzão' poderá ser o mesmo. Os
saudosistas dizem que o campo do Comércio deveria ter sido tombado como
patrimônio histórico de Itaperuna. Assim como hoje, há quem diga o mesmo sobre
a casa do Itaperuna. O fato é que o município de Itaperuna, outrora conhecido e
respeitado no meio futebolístico, está perdendo suas origens e poderá perder
outro estádio.
Ídolo lamenta atual situação - Símbolo de
uma geração que marcou época no Itaperuna Esporte Clube, o ex-jogador Sirley de
Carvalho, o goleiro Pacato, fala com tristeza sobre a situação que o clube se
encontra. 'Pra gente que jogou no Itaperuna, fica uma mágoa, uma tristeza muito
grande. Eu passei pelas categorias de base e fiquei uns quinze anos no clube.
Minha esperança é que algum empresário assuma
o Itaperuna', torce Pacato.
Pacato relembrou
bons momentos de outrora, dentre eles, quando ficou 1.087 minutos sem levar um
gol. 'Não me lembro se foi em 92 ou 93.
Acabei levando um gol do Fluminense. Na verdade, dois, um do Macalé e o outro
do falecido Ésio. Perdemos aquele jogo por 2 a 1', recorda. O ex-goleiro não é
a favor da venda do estádio e reforça a ideia de que seria necessários
empresários somarem forças para salvar o Itaperuna. 'O ideal seria manter o
estádio de pé. Temos empresários na cidade com grande poder aquisitivo que
poderiam manter o clube. Parece que o pessoal desgostou do futebol', diz.
Por fim, Pacato
ainda revelou que outros jogadores lamentam o fato de o clube ter chegado na
situação que se encontra. 'Eu e outros ex-jogadores quando nos encontramos,
falamos a respeito do Itaperuna. Todos estão chateados com essa situação.
Existem cidades menores que conseguem manter seus clubes em atividade. O
futebol era a nossa alegria. Quantas vezes vimos o campo lotado, repleto de
torcedores. Tudo isso é muito triste', lamenta o ex-atleta demonstrando
acreditar que o fim do estádio esteja próximo.
Com a palavra, o presidente Eraldo
César Muniz
O presidente
Executivo do Itaperuna Esporte Clube, Eraldo César Muniz, demonstrou-se
empenhado em reerguer o clube, apesar das inúmeras adversidades. Em alguns
minutos de conversa com o presidente, fica claro e evidente que o clube, hoje,
tem mais problemas do que muitos possam imaginar. De acordo com o presidente,
ele encontrou uma dívida de aproximadamente R$ 5 milhões, que durante sua
gestão, foi reduzida para cerca de R$ 3 milhões. Ainda segundo ele, muitos
processos judiciais que estavam pendentes foram arquivados. 'Por força de um
leilão, tivemos que vender a esquina com o bar, para suspender o leilão, para
evitar que o Itaperuna ficasse sem o seu principal bem, que é o estádio. Em
função disso, sobrou um dinheiro e nós conseguimos quitar outras dívidas, todas
elas de processo judicial. Então girou em torno disso mesmo, houve um
decréscimo em torno de 40% da dívida', explica.
Eraldo destacou o
fato de o clube não ter receitas e apontou algumas alternativas, como o apoio
de empresários, comerciantes e sociedade em geral, a fim de que o Itaperuna
ressurja com força, para retomar o caminho do sucesso. Ele ainda salientou o
risco de o Estádio Jair de Siqueira Bittencourt ir a leilão. 'Tem um leilão
agora, que a gente corre risco, que é o leilão da Vara Federal, que é da
Fazenda Pública, do INSS. Esse leilão, nós corremos riscos, mas este processo
está sendo vigiado, está sendo conduzido de forma que a gente não tenha
surpresas'. A quitação da dívida é a forma de o estádio não ir a leilão. Esta
dívida, especificamente, gira em torno de R$ 500 mil, segundo o presidente.
Sobre o processo de
venda dos imóveis anexos ao estádio (local onde hoje funciona bar, funerária e
farmácia, em frente ao Supermercado Fluminense), o presidente Executivo explica
o procedimento de venda. 'Aquilo ali foi um socorro que nós tivemos. Por que
havia um leilão numa segunda-feira e nós trabalhamos a semana toda atrás de
conseguir uma verba e não conseguimos. O rapaz do bar se predispôs a depositar
o valor de R$ 150 mil e tentar a suspensão do leilão. Sendo assim, não houve
outra alternativa a não ser fazer a negociação, suspender o leilão e doravante,
terminar a negociação com ele, por que ali é um lote só, os três comércios
significam um lote só', explica. Vale ressaltar que o estádio indo a leilão
poderia ser arrematado pela bagatela de R$ 3 milhões.
Quando questionado
sobre o risco de o estádio ser vendido e sobre a forma de como isso seria
feito, o presidente Executivo falou a respeito do assunto e justificou seu
afastamento do clube nos últimos meses. 'Eu estive de licença nos meses de
dezembro, janeiro e fevereiro. Voltei em março. Quando retornei, soube que já
tinha sido feito um contrato com a imobiliária, já tinham visto imobiliárias e
corretores, e chegaram à conclusão que tem que vender o estádio, para pagar as
dívidas e com a sobra do dinheiro, terminar o Vale das Seringueiras'. O Vale
das Seringueiras está localizado na Avenida Mourão Filho, estrada que liga os
bairros Aeroporto e Vinhosa.
Presidente explica como seria o seu
projeto - Eraldo fez questão de frisar que este projeto, de venda do
estádio, não é o que ele entende como administrativamente viável e expõe
claramente suas ideias. 'O meu projeto seria um condomínio; seria a disputa da
3ª divisão neste ano, e aí sim, o clube iria zerar suas dívidas. Fazer um
projeto imobiliário que desse suporte não só a construção do Vale das
Seringueiras, como agregar mais uma área para fazer um complexo', diz. Nos
planos dele, o ideal seria a manutenção do estádio, vendendo apenas a área atrás
de uma das traves (a geral, de frente ao Hospital São José do Avaí), uma área
de aproximadamente 1.600 m2. Com isso, o
Itaperuna Esporte Clube pagaria suas dívidas, disputaria o campeonato e teria
fôlego novo para se reestruturar. Eraldo também sondou alguns clubes e
empresários reconhecidos no meio do futebol, a fim de formar parcerias. Mas,
até o presente momento, não conseguiu o sonhado apoio.
Hoje, as coisas
caminham para a venda do estádio. Caso não haja nenhuma mudança, parece que o
futuro do Estádio Jair de Siqueira Bittencourt já está traçado. Existe uma
comissão formada para gerir os procedimentos de venda e aplicação dos recursos
na construção do Vale das Seringueiras. 'Foi formada uma comissão com cinco
pessoas notáveis da cidade, que estão gerindo essas negociações e fiscalizando.
Não há negociação, sem a fiscalização e a determinação da comissão', finaliza
Eraldo.
Polêmica referente a condições de venda
do estádio
Existem
conselheiros que concordam e querem a venda do Estádio Jair de Siqueira Bittencourt,
no entanto, discordam de como o processo estaria sendo conduzido. De acordo com
um desses conselheiros, em novembro de 2012 foi realizada Assembleia do
Conselho Deliberativo, quando ficou autorizada a venda do estádio. Nesta mesma
reunião, foi criada comissão responsável pela organização da venda do
patrimônio.
O questionamento
principal desse grupo é em relação à forma de como estaria sendo realizada a
venda do estádio. O grupo afirma ser a favor da venda, desde que haja
transparência e planejamento. Outra questão levantada é o fato de não ter sido
feita nenhuma convocação dos corretores do município e imobiliárias, ainda
conforme o grupo, para que todos tivessem a oportunidade de apresentar suas
respectivas propostas sobre a venda do estádio. 'Somente uma empresa foi
chamada para realizar o contrato de exclusividade de venda. Por que isso
aconteceu, já que não houve autorização do conselho?', questiona um dos
conselheiros. Ainda de acordo com o conselheiro em questão, o estatuto, no que
se refere ao patrimônio do clube, tem que ser deliberado pelo conselho.
No dia 29 de abril,
às 19h, acontecerá reunião extraordinária entre os sócios do Itaperuna Esporte
Clube, no salão da Associação Comercial de Itaperuna. Nesta reunião, este grupo
de conselheiros, pretende esclarecer aos demais sócios o que estaria
acontecendo. É importante que todos os sócios compareçam à reunião, pois o
futuro do Itaperuna Esporte Clube está em jogo. E, em jogo, também está a
paixão daqueles torcedores que trazem consigo, em suas memórias, jogos, craques
e jogadas inesquecíveis.
É de suma
importância que todas as possibilidades sejam estudadas, analisadas e bem
planejadas. Que os interesses pessoais sejam colocados de lado e que o jogo de
vaidades ceda passagem para a coletividade, visando sempre, o bem comum. Os
conselheiros do Itaperuna Esporte Clube tem uma enorme responsabilidade nas
mãos. Agora, é hora de somar forças! É hora de decisão... O juiz está prestes a
soar o apito final. Qual será o placar da partida?! Ainda não sabemos, mas,
caso o Estádio Jair de Siqueira Bittencourt venha a ser demolido, que seria
deveras lamentável, é bom tomar cuidado para que o futebol itaperunense não
seja soterrado em meio aos escombros.
Informação e fotos: Agência Comuniqque | www.comuniqque.com
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