terça-feira, 9 de setembro de 2014

Conheça a historia de Laje do Muriaé que completa 52 anos

Voltando ao passado! Um pouco sobre Laje do Muriaé/RJ


Programação da Festa


Conta-se que três homens, dois de origem portuguesa e um de origem luso-espanhola, foram os primeiros homens civilizados a chegarem a estas terras, isto por volta do ano de 1832. O primeiro que chegou foi José Ferreira César, o segundo José Bastos Pinto e o terceiro José Garcia Pereira, vindos de Muriaé-MG, com suas respectivas famílias.

Atestado de óbito de José Ferreira César:
"Aos sete dias do mês de maio de mil oitocentos e sessenta e oito, se sepultou nesta matriz de Nossa Senhora da Piedade da Laje a José Ferreira César, que faleceu repentinamente de uma congestão cerebral, na idade pouco mais ou menos de sessenta e oito anos, sem sacramento por não dar tempo a que se chamasse um padre: achou-se o seu testamento o qual estava aprovado...1

O testamento de José Ferreira César:
"Em nome de Deus Amém. - Eu José como Cristão Católico Apostólico Romano que sou e em a qual religião nasci, fui educado e criado na qual me tenho conservado e espero morrer, tendo-me deliberado fazer o meu testamento, como o faço de minha livre e espontânea vontade, e em perfeito juízo e saúde perfeita, declaro minhas disposições as quais quero que se cumpram pela maneira e forma seguinte depois da minha morte:
Declaro que, quando eu falecer, meu corpo seja conduzido para a Matriz desta Freguesia, ficando meu enterro à disposição e acordo de meus filhos e testamenteiro. Declaro que as meninas. . . e.
nascidas de. . . minha escrava que foi hoje liberta, por carta por mim passada, são minhas filhas e, como tal, as reconheço e por este as habilito que herdarão igualmente com os outros meus filhos e herdeiros e, depois da minha morte peço e rogo a meu testamenteiro e genro, Cândido Francisco de Paula, tomar conta das ditas minhas filhas. . . e. . . a fim de tratar da educação delas, até que tenham idade de tomar estado, e peço coadjuvar para este fim até o final, assim como peço mais ao meu testamenteiro e genro para ter em sua companhia a dita (mãe das duas meninas). Ficam gozando das suas liberdades, depois da minha morte, como se de ventre livre nascessem, Domingos e sua mulher Rosa, Antônio de Nação e Eva Parda, os quais liberto em remuneração aos bons serviços que me têm prestado. Meu escravo Severino, depois da minha morte, ficará servindo a meu filho Francisco, pelo prazo de dez anos, no fim dos quais ficará gozando da sua liberdade, como se nascesse de ventre livre. Declaro que de minha terça tirar-se-á para a liberdade dos escravos Domingos, Rosa, Antônio de Nação e de Eva, quinhentos mil réis em dinheiro para a Matriz de Nossa Senhora da Piedade, quinhentos mil réis para a Igreja de Santo Antônio e um conto de réis para.. mãe de minhas filhas...e...e o restante da terça tirar-se-á mais quatrocentos mil réis para o neto Joaquim, filho do meu genro e testamenteiro Cândido Francisco de Paula. O meu testamenteiro pagará às Irmandades de São Francisco, Senhor do Bom Jesus e Nossa Senhora das Dores os vencimentos que tiver. Por ocasião do meu enterro mando que se dê na porta da Igreja cem mil réis de esmola aos pobres: Mandarão dizer sete missas por descanso de minhalma e, quando completar um ano da data do meu enterro, quero que se mande dizer outras sete missas e encomendação e outros cem mil réis pela mesma forma repartidos de esmolas aos pobres na porta da Igreja, no dia da última missa, que peco mandar dizer mais uma cada mês, até se findar o ano (. . .).
Declaro mais que, depois do meu falecimento, por minha letra acharem em meus assentos a declaração que eu dava a alguém ou alguma promessa, rogo a meu testamenteiro em pronto cumpra e pague. E desta forma tenho concluído este meu testamento e disposição de minha última vontade que quero se cumpra e guarde depois da minha morte (. . .) E por este plenamente revogo qualquer outro testamento anteriormente firmado (. . .) Assinei neste arraial de Nossa Senhora da Piedade da Laje, Município dos Campos dos Goitacazes, aos 25 dias do mês de setembro de mil oitocentos e sessenta e seis. JOSÉ FERREIRA CESAR.

Sobre a origem do nome, Laje do Muriaé, existem duas versões:
1ª- "Era no tempo ainda dos bandeirantes. A povoação vinha recebendo aos poucos os seus novos habitantes, no rio Muriaé, na altura onde se acha hoje o casario da vila, existe uma laje de pedra no rio, da qual se avizinhavam os primeiros povoadores do lugar, servindo de ponto de referência aos encontros. Dai era freqüente eles dizeram: "Vamos encontrar na laje"; "Vamos até a laje"; "Fulano está na laje". O lugar ia crescendo e as referências a "laje" iam sendo repetidas. Por isso, o nome da atual vila de Laje do Muriaé teve origem na laje de pedra do rio que a banha e é um dos motivos do seu crescente progresso "2
2ª- Afirma-se que índios puris (primitivos habitantes) pertenciam à raça Lagide (Laje), e que eram oriundos dos GÊS, cujo grupo pertencia aos Goitacases e aos Coroados. Assim sendo, o nome de Laje veio da classificação dos puris (Lágides) e não, de uma pedra (laje), existente no rio 3.

 Movimento Republicano em Laje do Muriaé:
"Os dois partidos políticos existentes no Brasil, sofreram modificações nas suas bases: - O Partido Conservador, sentindo que o tronco ameaçava a ruir - pois os alicerces do Império estavam sendo abalados pelo vendaval das conquistas sociais do momento. Aliaram mais forças, abraçando e chamando a si a MILÍCIA NEGRA.
Os liberais por outro lado, mais esclarecidos pela realidade da época, abraçaram o movimento novo ,a República, que já se mostrava clara como o sol. Foi neste tempo, a 16 de abril de 1889, que o povo da Laje promoveu uma Conferência Republicana com a presença de Nilo Peçanha, campista ilustre, um dos propagadores daquelas idéias avançadas, iniciadas e também propagadas por Silva Jardim. Debaixo de festa e de júbilo popular, foi recebido entre nós o jovem tribuno que transmitiria ao povo a mensagem de fé e de redenção política, ditada pela nova ordem: A REPÚBLICA.
A conferência republicana realizar-se-ia nessa noite, no salão amplo do hotel então existente ao lado direito da Igreja Matriz, precisamente no local em que hoje se encontra a Praça 1º de Maio.
No momento em que se achava reunida a massa popular, em cujo seio se viam muitíssimas famílias da localidade, foi o prédio atacado pela Força Pública, por ordem do Tenente Gatto, capitaneando uns 400 negros libertos, a mando dos escravocratas que convenceram os negros de que os republicanos pretendiam escravizá-los de novo. Estava presente o Dr. Nilo Peçanha, que escapou.
Vinte e cinco dias depois desses acontecimentos que ficaram brilhando na história do Brasil, com o nome de "As Garrafadas de Laje do Muriaé", isto é, a 10 de maio de 1889, fez-se o pleito eleitoral para a escolha dos vereadores à Câmara Municipal de São José do Avaí. Pode-se, por isso compreender quão tenso deveria ser, ainda, o ambiente político da zona.
Nas eleições que se seguiram, ainda na monarquia no glorioso dia 10 de maio de 1889, o eleitorado de Laje do .Muriaé foi decisivo na vitória de se compor a primeira Câmara Republicana do Brasil" 4.

 Evolução Política:
Em 1850 Laje é elevada à .categoria de curato, em 1857 passa a freguesia e em 1861 se torna Paróquia.
De acordo com: o Decreto-Lei. N.º 905 de 10 de julho de 1939, ;foi. criada. a Sub-coletoria Estadual de Rendas de: Laje do Muriaé.
No dia 09 de março de 1940 essa Sub-Coletoria foi. transferida. para Comendador Venâncio. Surgindo assim um movimento, chefiado pela Sra. Augusta Gomes da Silva, contestando essa transferência.
No dia 23 de maio de 1940, por ato do Secretário Walfredo Martins, foi reconduzida para Laje. a disputa.: da Sub Coletoria Estadual.
A Sub-Coletoria Estadual passou à Coletoria no dia 14 de agosto de 1945, de acordo com o decreto n.º 1.425. Exerceu a função de coletor o Sr. Adhemar Ligiéro.
Emancipação de Laje do Muriaé:
Finalmente em 1962, Laje foi desmembrada do Município de Itaperuna.
O Comitê Pro-Emancipação foi presidido pelo meritíssimo Juiz Dr. Ronaldo de Souza. O resultado do comitê foi o seguinte:
Número de eleitores inscritos - 1498
Eleitores que fizeram uso do voto - 1021
Voltaram a favor da emancipação - 1014
Votaram contra a emancipação - 02
Votos em branco -05.
Duas figuras de renome em Laje do Muriaé lutaram pela sua emancipação: Pe. José Brandão e o Deputado Nicanor Campanário.

Lei n.º 5.045, de 07 de março de 1962, projeto no 62/62:
Art. 1º -, Fica criado o Município de Laje do Muriaé, com sede na atual vila do mesmo nome e constituído pelo território do atual distrito de igual nome, desmembrado do município de Itaperuna.

Art. 2º - O território do município de Laje do Muriaé compreende-se dentro dos seguintes limites: ao norte, com Comendador Venâncio (5º distrito de Itaperuna); ao sul com o município de Miracema; a leste com Retiro do Muriaé (6º distrito de Itaperuna) e a oeste, com o Estado de Minas Gerais medindo sua superfície (duzentos e quinze quilômetros quadrados) 215 km2.

Art. 3º-O município de Laje do Muriaé terá sua Câmara Municipal composta de sete vereadores, na forma disposta na Lei Orgânica das Municipalidades. (Lei n.º 2.132 de 1939)., constituindo-se e instalando-se o município na forma do artigo 14, da lei nº109.
Parágrafo Único - o ato de instalação será presidido pelo Juiz de Direito que exercer na região as funções de Juiz Eleitoral.

Art. 4º - Em dia que for designado pelo Tribunal Regional Eleitoral processar-se-ão as eleições do Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores do município.
Parágrafo Único - Os mandatos do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores eleitos, na conformidade desta lei, terminarão
Art. 5º - Dentro de 30 dias da posse, o Prefeito remeterá à Câmara Municipal a proposta orçamentária.

Art. 6º - Após a sanção, pelo Prefeito, da Lei Orçamentária, a Câmara Municipal fixará os subsídios do Prefeito e Vereadores para a primeira legislatura.

Art. 7º - A legislação vigente no município de Itaperuna será aplicável no município de Laje do Muriaé, enquanto este não elaborar sua legislação própria.
Art. 8º - O Departamento das Municipalidades prestará a assistência necessária à organização dos serviços do município à ser instalado.

Art. 9º - Fica o Poder Executivo autorizado a abrir o crédito especial de dois milhões de cruzeiros que será entregue, a titulo de auxilio, à Prefeitura Municipal de Laje do Muriaé.

Art. 10º - Esta lei entrará em vigor na data de, sua publicação, revogada as disposições em contrário.
Palácio do Governo, em Niterói, 7 de março de 1962. 

 Celso Peçanha.

 CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO

 Relevo:

Pertence ao Maciço Atlântico, com altitudes médias, acima de 250 metros, terreno ligeiramente ondulado com pequenas elevações, onde se destaca a Serra da Divisa (Laje- Miracema), cujo ponto culminante atinge 730 metros.

 Hidrografia:
 Apresenta rica e exuberante, principalmente a área que abrange o rio Muriaé e tem os seguintes ribeirões: Barro Branco, Tanque, São Joaquim, Cinco, Branco e Belmonte.

 Clima:
E ameno e agradável, com as seguintes características: a região possui um clima tropical semi-úmido e com médias anuais entre 23º e 25º. O índice pluviométrico é superior a 1.500 mm. Mesotérmico com verões quentes, úmidos e chuvosos.

Localização:
 A vila de Laje do Muriaé, sede do Distrito, fica situada à margem direita do rio Muriaé, na parte setentrional do Distrito, tendo como limites: Ao norte: Itaperuna; ao sul Miracema; a leste: Itaperuna e a oeste com o Estado de Minas Gerais.

 Área:
 O município de Laje do Muriaé tem uma área de 215 km2.

POPULAÇÃO
 O povoamento da localidade ocorreu lentamente, devido a falta do elemento branco, uma vez que a população predominante na área, constituía-se de índios puris. Com a vinda do negro para mão-de-obra nas grandes fazendas produtoras de café e os senhores de engenho, o branco de origem européia, começou povoar Laje.

ASPECTO ECONÔMICO

Devido a sua topografia privilegiada, o baixo Muriaé, com abundância de mão-de-obra escrava para o cultivo da cana e a fixação de famílias lusos-espanholas à frente de seus engenhos foi-se tornando importante, como produtor de cana-de-açúcar e elevando o nome da Freguesia de Laje.
Eram concedidas sesmarias para quem quisesse cultivar a cana-de-açúcar, a pessoas que não possuíam títulos de propriedade da terra. Ao mesmo tempo ocorreu a interiorização do homem às terras férteis do baixo Muriaé.
Os mestiços, descendentes de escravos e índios, chegavam a uma clareira desabitada, erguiam uma choupana de sapé, passando a criar galinhas, plantando feijão, mandioca e tirando o sustento da terra, quando apareciam senhores vindos de cidades estranhas com titulo de proprietário da terra, que o caboclo não tinha.

 Agricultura:

Enquanto no Baixo Muriaé predominava a lavoura de cana-de-açúcar, o Alto Muriaé era explorado pêlos garimpeiros, no desejo de encontrarem ouro e diamante.

"Entre os faiscadores de ouro, cita-se o nome de Pedro Cacunda, que mais ou menos em 1 740, deu ciência ao Rei de Portugal da existência de grande jazida de ouro, naquela zona".5

Toda área rural de Laje do Muriaé sofreu um processamento com relação a sua cultura. Primeiro surgiu a monocultura do algodão, depois da cana-de-açúcar e mais adiante a do café, que foi sem dúvida o período áureo. Com a decadência da produção do café, surgiu a monocultura do arroz, que se faz presente até hoje.

 Indústria:

Em 1876, o alemão João Henrique Caspary, estabeleceu-se em Laje, fundando uma fábrica de cerveja. Contou, com a sociedade do Sr. Mariano José Garcia, cuja firma chamava-se Garcia & Caspary. Esta foi a primeira fábrica de bebidas existente nestas redondezas.

Sabe-se também da existência de uma fábrica de sabão, uma serraria, 03 máquinas de beneficiar café, 04 máquinas de beneficiar arroz, 02 fábricas de aguardente, 02 olarias, 0l fábrica de móveis e moinhos de fubá 6.

 Artesanato:

Era efetuado por artesões anônimos que trabalhavam com grande saber, na fabricação de cestos, de fibras ou bambu, moringa ou talha de barro ou argila e objetos em madeira tais como: colher de pau, pilão, socadores e gamelas. Engendravam também abanos e vassouras de palha ou cipó.
Existiu, em épocas mais remotas, a arte indígena, que floresceu com trabalhos de pedra e barro.
Por volta de 1855, surgiram artesões que confeccionavam sandálias, bolsas, tamancos e sapatos de couro. Nesta época, as mulheres se ocupavam com o bordado, tricô e crochê.

 Comércio:

Em 1842, surgiam em Laje três casas comerciais. Nelas vendia-se de tudo, tornando-se os centros convergentes da população urbana e rural.
Em 1960 já contava com 34 casas comerciais, situadas na zona urbana, 33 na zona rural e 0l cooperativa de crédito bancário - ITAPUCA.

 Transportes:

O transporte rudimentar da Laje era feito através de canoas, que faziam a travessia do rio Muriaé, interligando Laje com Itaperuna, Natividade e Porciúncula. O cavalo era muito utilizado e teve grande desempenho como veículo transportador de produtos da zona rural para a zona urbana.
Com o passar do tempo, surgiu a charrete e finalmente os caminhões e carros.
As estradas se apresentavam em péssimo estado. Eram estreita e ligavam a zona urbana com a zona rural.
Por muitas vezes, em dias de chuvas, ficavam completamente interditadas.

INFRA-ESTRUTURA SOCIAL

 Habitação:

Em 1832, as primeiras habitações eram feitas de tábuas, onde residiam os puris. Depois, foram surgindo as casas com paredes de barro e telhado de pindobas. Houve e há casas com construções sólidas, em madeira, e taipá, cujas fachadas apresentavam geralmente, janelas e portas quadradas, pintadas de azul colonial ou marron barroco. As casas tinham cor branca, possuíam porões, quartos, cozinhas, oferecendo relativo conforto. O banheiro ficava fora da casa, não fazia parte do conjunto. Estas casas eram reservadas a pessoas de alto poder aquisitivo. O restante da população vivia em casas de sapé ou pindoba.
A casa mais antiga de Laje do Muriaé fica localizada à rua Garcia Pereira, esquina com a Praça Pe. Matins e foi construída em 1854, pelo bandeirante José Ferreira César. Na parte térrea existia um salão ocupado por um bilhar.

 Abastecimento de Água e Esgoto:

Não existia abastecimento de água e esgoto, usava-se a água de cacimba e de poço.
Todo despejo de fezes e detritos eram feitos em valas por trás das casas ou em frente destas.
Em 1925, o Coronel José Garcia de Freitas, Prefeito de Itaperuna, construiu a rede de água em Laje do Muriaé, utilizando a água das chácaras Maestro Masini e Resende de Paula. Sendo estas duas fontes de água potável insuficientes para abastecer a população, o Dr. J. Bruno Silveira construiu mais um reservatório, em 1955.

Sistema de Comunicação:

Em 1886, Reis Távora montou em Laje do Muriaé, a primeira oficina tipográfica e publicou o primeiro jornal com nome de "O LAJENSE".
O segundo jornal surgiu em 1887, "O JARDINEIRO", fundado por Ernestina Fagundes Verela, irmã do poeta Fagundes Varela. Seu primeiro exemplar foi editado em 31 de março de 1887.7
Outros jornais: "O BINÓCULO", redigido por Antônio Augusto da Cunha; "O 3º DISTRITO", fundado por José Ignes dos Reis e Dr Platão H. Garcia; "O GRITO DA LAJE", diretores: Pe. João Batista dos Reis, Felisbelo Fernandes Friaça e Octavio Marinho 8.
O serviço do correio era feito através de cavalos que iam buscar o malote na estação de Comendador Venâncio.
Existia em Laje, uma rede telefônica criada pelo Major Carlino Comes da Silva, rede esta que interligava Laje a Comendador Venâncio e durou de dois a três anos.9
O primeiro meio de comunicação que existiu foi a missiva (mensagem) levada por homens que iam montados a cavalos, a grandes e pequenas distâncias.

Associações:

Nos primórdios do século XX surgiu em Laje uma sociedade anônima, que não foi registrada e tinha por nome "Senhoras Piedosas". Eram senhoras da sociedade que levavam alimentação, remédios, roupas e também apoio moral aos menos favorecidos pela sorte.
A "Legião Brasileira" funcionou de 1910 a 1920, sob a presidência da Sra. Augusta Comes da Silva.
Laje do Muriaé foi a primeira localidade a fundar uma Loja Maçônica, nestas redondezas, no ano de 1870 e teve como um dos seus presidentes o Pe. João Justiniano Teixeira de Carvalho. Esta loja funcionou na rua principal e desapareceu por volta de 1879, devido ao espírito religioso da população.

 Esportes:

- Antes de 1900, os divertimentos mais comuns eram: o jogo do pião, jogo da malha e o da peteca.
O Dr. Inácio Guedes Furtado Leite iniciou o futebol, por volta de 1905, na comunidade.
Em 1910, foi fundado o primeiro clube de futebol, "O Lajense". Mas, somente em 1916 este ficou organizado. Em 1919, existiam dois clubes: O "Fluminense Futebol Clube" e a "Associação Atlética Lajense", os quais mais tarde fundiram-se formando o "Laje Esporte Clube". Este passou por uma fase difícil, quase desaparecendo. O desportista Celso Pinto Côre reorganizou-o em 1939, melhorando sua técnica futebolística.
Em 1944, o "Laje Esporte Clube" integrou-se na liga Itaperunense de Desporte (LID), sagrando-se campeão.10

 Religião:

Coube à religião Católica Apostólica Romana a prioridade em Laje do Muriaé, visto congregar maior número de pessoas. O primeiro templo construído foi a Igreja do Rosário, localizada no Largo do Rosário, hoje Morro Pe. João. Esta foi erguida pelo povo e sem autorização eclesiástica, razão pela qual rezavam somente ladainhas, uma vez que não cabia ao clero designar um padre. Essa igreja teve pouca duração e logo foi demolida.
A segunda igreja foi a Matriz Nossa Senhora da Piedade, cuja data de fundação é ignorada, contudo, foi reconstruída em 1909 e em 1926, A primeira reconstruçâo-1909, foi feita em partes, sendo interrompida por falta de recursos financeiros.11
O primeiro vigário foi o Pe. João Justiniano Teixeira de Carvalho. Com o tempo, o padre adquiriu a Fazenda Santa Paz, abandonando a Freguesia. Os padres vinham periodicamente de Capivara (Palma- MG) e Patrocínio do Muriaé, a fim de oficiarem os serviços religiosos.
O povo. não agradando da situação, começou a queixar, sendo atendido. Foi quando veio para a Freguesia o Pe. Antônio Martins Machado (São Caetano- MG). Este permaneceu até sua morte na freguesia, sendo substituído pelo Pe. Manoel Lobato Carneiro da Cunha.
Em 1889. pela primeira vez, Laje recebia um Bispô, D. Antônio de Macedo Costa. Para substituir o Pe. Lobato foi nomeado o Pe. José Pires Ferreira de Moraes, vindo de Espírito Santo. Tendo este falecido, foi substituído pelo Pe. João Batista dos Reis em 05 de agosto de 1896, exercendo os ofícios religiosos até 1947, quando faleceu. sendo substituído pelo Pe. José Brandao.12
"Desde o início da Igreja. ainda no período monárquico. que em sua sacristia, era notório enterrar pessoas de destaque. As lápides eram de mármores, com ricas inscrições. "As duas últimas pessoas enterradas na sacristia da primeira igreja matriz de Laje do Muriaé, foram: o fazendeiro José Basílio de Freitas, assassinado por um escravo e o negociante Antônio Pires do Couto".
Nesta época. o cemitério pertencia à igreja e pelo que se sabe. existia uma lei proibitiva às pessoas não católicas de serem sepultadas no mesmo. Foi quando faleceu o engenheiro Herman Neigle, natural da Suiça; sendo protestante (calvinista), não pôde ser enterrado no cemitério.13
Existe também a Capela Santo Antônio construída, no morro do mesmo nome.
Em 23 de agosto de 1931,surge a religião Protestante Batista, com 100 membros e tendo como primeiro pastor o Dr. Erodice de Queiroz. A nova igreja adotou o nome de Igreja Batista de Laje do Mu riaé.14
Com a introdução de escravos nas fazendas de Laje, a liturgia da seita africana umbandista viveu por muito tempo praticamente omissa, até que, em 1890 teve inicio oficial. A mais importante mãe-de-santo de Laje do Muriaé é a Sra. Maria Carreiro, que no decorrer de muitos anos, vem processando o Espiritismo. tendo como sede o "Centro Espírita São Sebastião", próximo à Fazenda Botafogo.

Aspecto Cultural:

Os portugueses aqui chegados, em contato com o índio e com o negro, não se preocupavam com outra coisa, senão com construções de fazendas, plantio, estradas, etc.
A chegada do Maestro Giuseppe Mazzini em 1860, o qual havia sido professor na Corte de D. Pedro II e que teve por aluna de harpa a Princesa Isabel, foi importantíssima. Homem de cultura extraordinária e exímio musicista, modificou completamente a vida cultural lajense, fazendo surgir saraus, onde predominavam o bom gosto na indumentária, no canto e na música (especialmente o piano). Com o Maestro Mazzini, Laje teve indubitavelmente o seu período áureo.15
O segundo período em que a cultura lajense chegou a um amplo desenvolvimento, foi a partir de 1887 quando a família do Dr. Emiliano Fagundes Varela, pai do notável poeta Luis Nicolau Fagundes Varela, chegou a Laje com suas duas filhas: a poetisa Ernestina Fagundes Varela e Maria Luísa Fagundes Varela, professora de renome.
Em 1886, o Sr. Tomé Távara, chegou em Laje e procurou organizar uma sociedade dramática que denominou-se "Sociedade Familiar Dramática da Laje do Muriaé"; esta funcionava na rua Garcia Pereira.
Durante pouco tempo funcionou o cinema mudo, com o passar do tempo e a atualização deste, ergue-se o prédio, na rua Garcia Pereira. O cinema mudo teve como diretor o Sr. Nascimento.16
Laje do Muriaé, sempre possuiu bandas de músicas. Estas eram organizadas pêlos fazendeiros, e os músicos, na maioria, eram escravos. Só os regentes recebiam ordenado e eram homens livres. As bandas tocavam gratuitamente.
A primeira banda do povoado foi organizada pelo Sr. Francisco Tateri em 1881. Com o falecimento deste maestro, o Sr. José reorganizou-a e mais tarde sob a regência dos Srs. Antônio Teixeira, Francisco Teixeira e José Amâncio Garcia Bastos, foi denominada "Lira de Ouro".
Em 1905 surgiu a "Lira Lajense", sob a regência do abalizado Maestro Nicolino César Mazzini, filho do notável Maestro Giuseppe Mazzini. Esta existiu até 1921.
Outra banda foi organizada em Laje: "Sociedade Musical 5 de Novembro". Recebeu este nome em homenagem à data natalícia do Pe. João Batista dos Reis. Esta sociedade musical manteve-se graças aos esforços e compreensão de seus componentes.
Na manhã de 25 de outubro de 1953, Laje foi abalada por um incêndio, na sede da banda musical "5 de Novembro", na praça Pe. Martins. Essa sede acolhia todo o arquivo dessa associação musical deixado pelo Maestro Giuseppe Mazzini. Acredita-se que este incêndio originou-se de uma ponta de cigarro. Devido ao amor dos lajenses pela referida banda ser tão grande, em poucos meses o prédio foi reconstruído com ajuda do povo em geral.

 Manifestação Folclórica:

 Lenda do Zê do Arrastado:
"Escravo foragido aos trabalhos da fazenda do sinhô" mineiro ríspido e inflexível nos seus ditames de senhor de escravo. Alcançado na fuga pelo feitor, que tinha carta branca do patrão, seguiu-se o castigo imediato as chibatadas clássicas do estilo...
O escravo, depois do castigo preliminar, foi amarrado ao rabo de burro que se pôs a trote a caminho da Casa da Fazenda. De mãos atadas, juntas, é certo que teria o escravo de correr, também a fim de poder acompanhar a marcha do animal. Como castigo secundário, estava proibido de alimentar-se e beber água tentadora que os córregos, cortando de vez em quando o caminho, forneciam abundantemente, cantante e fresca...
No sopé do morro que domina ao poente a localidade da Laje do Muriaé, houve paragem obrigatória do cavaleiro e, logicamente, do séquito sinistro, a fim de que o feitor, mais do que ninguém, descansasse um pouco.
O escravo não resistiu à tentação da água clara e fria. Mal, porém, curvou-se a ela, sofregamente, na ânsia, fisiológica de tragá-la, o feitor, para adverti-lo, do castigo preconizado, vibrou-lhe larga e inesperada chibatada que zunindo, estalou-lhe no lombo...
O burro., que era meio arisco, espantando-se com o gesto intempestivo e desastrado do feitor - deu de galopar, desembestado, pelo morro acima, arrastando, entre as pedras da estrada, o escravo que caíra por não ter podido acompanhar a carreira veloz do animal em disparada...
Quando, no topo do morro, o burro, por acaso, parou, ou se deteve, dominado de cansaço - o Escravo José, tinha a cabeça esfacelada de chocar-se contra as pedras do caminho.
Naquele lugar, depois: mãos piedosas ergueram uma cruz, .à margem da estrada para perpetuar a memória da ocorrência, E, até hoje a Cruz do Zê Arrastado, no Morro do Pau-d' Alho, faz milagres.
Quando a seca maltrata a plantação, o sol calcina a terra e faz minguar todas as nascentes, prenúncio de miséria, o povo, penitente, em charola, conduzindo pedras no alto da cabeça, para abrandar e comover o coração de Deus; vão depositá-las ao pé da Cruz de Zê Arrastado, suplicando chuva àquele escravo que morreu sedento. 

Lenda do Basto Seco:
"A maldade de senhor de escravos, às vezes, não tem limites e de tal modo se avantaja no mal que a própria morte não é suficiente a encobrir os seus cometimentos. Assim aconteceu a um daqueles Bastos, entre os muitos que viveram na Laje do Muriaé, conforme registro de óbito em poder, "faleceu de consumpção" aos 30 anos de idade.
Era homem terrível tinha o hábito de infligir aos negros da fazenda os mais ásperos e hediondos castigos. Depois de morto, haveria de pagar os crimes monstruosos que perpetuara contra os escravos... Praga de Negro Velho!...
A terra não o comeu. Foi encontrado na Matriz, local de seu sepultamento, quando lhe abriram a cova, cinco anos depois, mumificado, seco. Enterraram-no de novo: anos depois foi novamente desenterrado, ainda seco e duro. .. Recusava-se a terra de comê-lo. Precisava de muita missa o Basto Seco, o tal cognome lhe deram. Levaram-no para o cemitério onde foi sepultado mais uma vez. . . Reencontrado, lançado ao rio e, sem querer, foi pescado abaixo, no poço do Remanso... Conduziram-no, afinal, para o forro de uma casa velha, já que a terra e o rio negaram-lhe aconchego... À noite, os ratos faziam barulho, sapateando dentro da sua carcassa ressecada. Enterrado, depois, dentro da parede da casa da Escola Pública, a parede estufou para fora, criando estranha barriga. . -
Não se sabe, hoje onde ele se encontra, cumprindo seu misterioso fadário, mas, o que se sabe é que no forro de toda casa velha, na Laje daquele tempo, havia Basto Seco, amedrontando, assombrando crianças..!'

Educação:

A instrução na zona rural era mantida por professores remunerados pêlos fazendeiros. Estes permaneciam nas fazendas e atendiam a todas as séries, sem número estipulados de alunos e às vezes excediam à carga horária. Os primeiros mestres de Laje do Muriaé, foram: Francisco Mestre (conhecido como Chico), Sra. Clara Maldonado Leite, Maria Luisa Fagundes Varela e Ernestina Fagundes Varela.
Laje possuía um colégio particular, sob a direção de Maria Luísa Fagundes Varela, o qual desapareceu em 1889.
Antes de 1891 foi criado o Colégio Macaúbas, particular, onde Carlos Silva e João Carlos Alvarenga atuaram como professores.
A professora Guiomar Ramalho Gomes também possuiu uma escola particular, onde só estudavam pessoas do sexo feminino.
Surge o Colégio Nossa Senhora da Piedade, em fevereiro de 1910, tendo como Diretora a Sra. Emília Diniz Ligiéro. Tal colégio tinha como regime o semi-internato e funcionava na residência da diretora. Em 1940 suas portas foram fechadas.
Mais adiante surgiram na zona rural, escolas mantidas pela Prefeitura, num total de 07 escolas, abrangendo o número de 174 alunos.
Existiu também o Colégio das Marietas destinado ao sexo feminino, onde ensinavam tricô, croché, bordado, etc.
O grupo Escolar Comandante Ary Parreiras foi criado em 1937.
Havia também 07 Escolas Estaduais Isoladas, funcionando na zona rural, com 270 alunos no total.
O Ginásio Maestro Mazzini, tinha em anexo a Escola Normal Álvaro Diniz e o Curso Primário. A princípio, este funcionava no prédio do Grupo Escolar Comandante Ary Parreiras, mais tarde, em 1952. foi inaugurado seu próprio prédio, na rua Ferreira César, tendo como primeira diretora a Sra. Maria Clara Diniz Ligiéro Coelho.
Em 1960, formou-se a primeira turma de professores da Escola Normal Alvaro Diniz.
O Ginásio Maestro Mazzini pertenceu à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos e foi criado pela Portaria n.º 127 de 10 de fevereiro de 1953, do Ministério da Educação e Cultura.

 Saúde:

Antes da República, Laje possuía três farmácias: a do Sr. Antônio Lobo, criada mais ou menos em 1870, situada no centro da principal rua. Com aparecimento da farmácia do Sr. Manoel Xavier de Souza, a do Sr. Lobo desapareceu. Anos depois, o Sr. Carolino Gomes da Silva instalou a "Farmácia Confiança", no largo da Matriz. Em 1887 o farmacêutico José Lopes da Costa Souza Júnior, estabeleceu-se em Laje com sua farmácia "Lopes Júnior, sendo substituído, após sua morte, pelo farmacêutico Manoel Costa da Gama Vilas Boas. Este, não julgando compensadores os lucros obtidos na farmácia, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando sua farmácia para o Sr. Álvaro Augusto Moraes Diniz, em 1890.
Laje foi assolada duas vezes por grandes epidemias: a de 1871 (cólera mórbus), em que não se podia formar diagnóstico porque a febre era complicada pela hepatite e icterícia. A de 1917 foi um epidemia da gripe denominada espanhola.
No final do século XIX, o Dr. Fernandes Figueira iniciou Clínica em Laje.
Contou a localidade lajense com um Posto de Higiene, a Maternidade Abílio Gaberto, o asilo "Amparo à Velhice e Alberto Noturno". O Posto de Higiene, criado em 1942, tinha em anexo uma maternidade e também fornecia remédios, dietas e serviços médicos gratuitos. Destacou-se o Dr. Ary Gomes Rosmaninho.
Em 15 de agosto de 1948, às 16 horas no salão do Posto de Higiene foi criada a Associação de Proteção à Maternidade e à Infância, sob a presidência da Sra. Lizete Sette Marinho.

Nota de rodapé
1.- Vig. Antônio Martins Machado.
2-Major Porphfírio Henrique:. A Terra da Promissão p.317.
3 - Entrevista com o Poeta Sol Sobral
4 - Município em Destaque. Estado do Rio de Janeiro.1983.
5 - Manoel Ligíero. O Homem, o Rio e a Terra. p.41.
6 - Ibid.
7 - Leopoldo Muylaert. Álbum do Município de Itaperuna.
8 - Manoel Ligiéro. O Homem, o Rio e a Terra. p. 175.
.9 - M. Caspary. Há mais de meio século.P.130/131.
10- H. M. Caspary. Há mais de meio século. p.130/131.
11 - Major Porphírio Henriques. A Terra da promissão p. 318/319.
12 - Ibid.
13 - H. M. Caspary. H mais de meio século. p.130/130/131
14 - Ibid.
15 - Entrevista com o Sr. Delio Nolasco.
16 - Entrevista ao Sr Wilson Garcia Bastos.
17 - Manoel Ligiéro. O Homem, o Rio e a Terra

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