Indignação e revolta. Esses são os sentimentos da família do jovem Iuri Marinho Ferreira, de 21 anos, que morreu após um acidente de trânsito em Laje do Muriaé , no Noroeste do Rio, no último sábado (13). Após receber a notícia da morte cerebral do jovem, a família resolveu doar os órgãos do rapaz. Foi então, que segundo uma tia dele, o sofrimento aumentou. Uma equipe do Programa Estadual de Transplantes (PET) só chegou para a captação dos órgãos mais de 30 horas após a morte cerebral e, ainda segundo a família, vários órgãos não puderam mais ser doados.
Após o acidente de sábado, Iuri foi levado com vida para o Hospital São José do Avaí, em Itaperuna , no Noroeste Fluminense. Na manhã de segunda-feira (15), a família assinou um termo para a doação de seis tipos de órgãos, mas como a captação só foi feita na noite de terça-feira (16), apenas os rins foram salvos.
“Nós autorizamos a doação das córneas, coração, fígado, rins, pulmão e pâncreas. Ficamos sabendo, inclusive, que o coração do Iuri ia ser doado para um rapaz de 16 anos que estava na fila de espera há dois anos. Só que, por causa da demora, apenas os rins de Iuri puderam ser doados” afirmou a esposa do jovem, Daniela Kronemberger.
Indignada com a demora, a tia de Iuri, que criou o rapaz, afirmou que o velório precisou ser adiado por cinco vezes.
“Tínhamos esperança de ajudar muitas pessoas, mas isso não aconteceu. Nossa dor é profunda, só quem perde uma pessoa sabe como é triste, mas nós estamos mais tristes de saber que ele não está doando vida. Isso é descaso das autoridades, é brincar com vidas. O Brasil inteiro precisa saber que a burocracia massacra o povo, que a gente sofre porque não tem assistência. Um jovem de 21 anos, saudável, que poderia ter doado muito mais partiu doando apenas dois rins”, desabafou a aposentada Iara Marinho.
Secretaria Estadual de Saúde diz que chegou no hospital na segunda (15)
Segundo a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde, a equipe do Programa Estadual de Transplantes (PET) recebeu a notificação do Hospital São José do Avaí na segunda-feira (15) e no mesmo dia se mobilizou para fazer a captação, mas faltou um exame fundamental.
"A coordenação do Programa Estadual de Transplantes (PET)  foi informada sobre a morte cerebral do paciente às 11h de segunda-feira (15). Às 13h do mesmo dia recebeu a informação de que um dos exames fundamentais para determinar o ranking de potenciais receptores dos órgãos não estava disponível no hospital. Diante da informação, uma profissional do PET se deslocou até Itaperuna para coletar o sangue necessário à testagem, tendo chegado ao hospital às 19h de segunda (15)", disse em nota.
Sobre a demora no transporte, a secretaria disse ainda que um helicóptero atua no transporte das equipes do PET e quando não há condições climáticas, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) é utilizado.
Hospital confirma a demora do Estado
Através de uma nota, a assessoria do Hospital São José do Avaí informou que atendeu as exigências burocráticas para a captação dos órgãos, mas que a esquipe do Programa Estadual de Transplantes chegou com 30 horas de atraso. Veja a nota: 
“O hospital conseguiu os doadores, atendeu todas as exigências burocráticas e de exames necessários para a doação. Infelizmente, a equipe de captação do Programa Estadual de Transplantes chegou a Itaperuna com 30 horas de atraso, causando transtorno para o hospital e muito mais para os familiares do doador. Somente o Programa Estadual de Transplantes pode esclarecer o motivo do atraso”, informou a primeira nota enviada pelo hospital.
A assessoria enviou uma segunda nota sobre o caso onde afirmou que “não vai fazer nenhum pronunciamento no momento, já que o Programa Estadual de Transplantes está sendo reformulado”.
O Hospital São José do Avaí não voltou a se pronunciar sobre a afirmação do Estado, que disse ter chegado, ainda na segunda-feira, para a realização de um exame que estava pendente. O corpo de Iuri foi enterrado em Laje do Muriaé, onde o jovem nasceu e morava.
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