Voltando ao passado! Um pouco sobre Laje do Muriaé/RJ
Conheça a história
de Laje do Muriaé que completa 59 anos
Voltando
ao passado! Um pouco sobre Laje do Muriaé/RJ
Laje do Muriaé foi emancipada em 1962, através da Lei n.º 5.045, de 07
de março de 1962, mas se comemora o aniversário no dia 15 de setembro, junto
com o dia da Padroeira da Cidade, Nossa Senhora da Piedade, ocasião que é
realizado a Festa do Peão e também a festa organizada pela igreja católica.
Este ano, assim como no ano passado o evento não foi realizado por causa
da Pandemia da COVID 19, porém a Paroquia Nossa Senhora da Piedade que tem a
frente o Padre Ramyro Armond tem realizado leiloes virtuais e outros
eventos seguindo rigorosamente o protocolo da OMS, para não deixar de comemorar
a Festa da Padroeira, assim também as noites do
Novenário em honra a N. Sra. da Piedade, alguns com a participação do
Padre Gervásio Gobatto e outros.
Conta-se que três homens, dois de
origem portuguesa e um de origem luso-espanhola, foram os primeiros homens
civilizados a chegarem a estas terras, isto por volta do ano de 1832. O
primeiro que chegou foi José Ferreira César, o segundo José Bastos Pinto e o
terceiro José Garcia Pereira, vindos de Muriaé-MG, com suas respectivas
famílias.
Atestado de óbito de José Ferreira César:
"Aos sete dias do mês de maio de
mil oitocentos e sessenta e oito, se sepultou nesta matriz de Nossa Senhora da
Piedade da Laje a José Ferreira César, que faleceu repentinamente de uma
congestão cerebral, na idade pouco mais ou menos de sessenta e oito anos, sem
sacramento por não dar tempo a que se chamasse um padre: achou-se o seu
testamento o qual estava aprovado...1
O testamento de José Ferreira César:
"Em nome de Deus Amém. - Eu José
como Cristão Católico Apostólico Romano que sou e em a qual religião nasci, fui
educado e criado na qual me tenho conservado e espero morrer, tendo-me
deliberado fazer o meu testamento, como o faço de minha livre e espontânea
vontade, e em perfeito juízo e saúde perfeita, declaro minhas disposições as
quais quero que se cumpram pela maneira e forma seguinte depois da minha morte:
Declaro que, quando eu falecer, meu
corpo seja conduzido para a Matriz desta Freguesia, ficando meu enterro à
disposição e acordo de meus filhos e testamenteiro. Declaro que as meninas. . .
e.
nascidas de. . . minha escrava que
foi hoje liberta, por carta por mim passada, são minhas filhas e, como tal, as
reconheço e por este as habilito que herdarão igualmente com os outros meus
filhos e herdeiros e, depois da minha morte peço e rogo a meu testamenteiro e
genro, Cândido Francisco de Paula, tomar conta das ditas minhas filhas. . . e.
. . a fim de tratar da educação delas, até que tenham idade de tomar estado, e
peço coadjuvar para este fim até o final, assim como peço mais ao meu
testamenteiro e genro para ter em sua companhia a dita (mãe das duas meninas).
Ficam gozando das suas liberdades, depois da minha morte, como se de ventre
livre nascessem, Domingos e sua mulher Rosa, Antônio de Nação e Eva Parda, os
quais liberto em remuneração aos bons serviços que me têm prestado. Meu escravo
Severino, depois da minha morte, ficará servindo a meu filho Francisco, pelo
prazo de dez anos, no fim dos quais ficará gozando da sua liberdade, como se
nascesse de ventre livre. Declaro que de minha terça tirar-se-á para a
liberdade dos escravos Domingos, Rosa, Antônio de Nação e de Eva, quinhentos
mil réis em dinheiro para a Matriz de Nossa Senhora da Piedade, quinhentos mil
réis para a Igreja de Santo Antônio e um conto de réis para.. mãe de minhas
filhas...e...e o restante da terça tirar-se-á mais quatrocentos mil réis para o
neto Joaquim, filho do meu genro e testamenteiro Cândido Francisco de Paula. O
meu testamenteiro pagará às Irmandades de São Francisco, Senhor do Bom Jesus e
Nossa Senhora das Dores os vencimentos que tiver. Por ocasião do meu enterro
mando que se dê na porta da Igreja cem mil réis de esmola aos pobres: Mandarão
dizer sete missas por descanso de minhalma e, quando completar um ano da data
do meu enterro, quero que se mande dizer outras sete missas e encomendação e
outros cem mil réis pela mesma forma repartidos de esmolas aos pobres na porta
da Igreja, no dia da última missa, que peco mandar dizer mais uma cada mês, até
se findar o ano (. . .).
Declaro mais que, depois do meu
falecimento, por minha letra acharem em meus assentos a declaração que eu dava
a alguém ou alguma promessa, rogo a meu testamenteiro em pronto cumpra e pague.
E desta forma tenho concluído este meu testamento e disposição de minha última
vontade que quero se cumpra e guarde depois da minha morte (. . .) E por este
plenamente revogo qualquer outro testamento anteriormente firmado (. . .)
Assinei neste arraial de Nossa Senhora da Piedade da Laje, Município dos Campos
dos Goitacazes, aos 25 dias do mês de setembro de mil oitocentos e sessenta e
seis. JOSÉ FERREIRA CESAR.
Sobre a origem do nome, Laje do Muriaé,
existem duas versões:
1ª- "Era no tempo ainda dos
bandeirantes. A povoação vinha recebendo aos poucos os seus novos habitantes,
no rio Muriaé, na altura onde se acha hoje o casario da vila, existe uma laje
de pedra no rio, da qual se avizinhavam os primeiros povoadores do lugar,
servindo de ponto de referência aos encontros. Dai era freqüente eles dizeram:
"Vamos encontrar na laje"; "Vamos até a laje"; "Fulano
está na laje". O lugar ia crescendo e as referências a "laje"
iam sendo repetidas. Por isso, o nome da atual vila de Laje do Muriaé teve origem
na laje de pedra do rio que a banha e é um dos motivos do seu crescente
progresso "2
2ª- Afirma-se que índios puris
(primitivos habitantes) pertenciam à raça Lagide (Laje), e que eram oriundos
dos GÊS, cujo grupo pertencia aos Goitacases e aos Coroados. Assim sendo, o
nome de Laje veio da classificação dos puris (Lágides) e não, de uma pedra
(laje), existente no rio 3.
Movimento Republicano em Laje do Muriaé:
"Os dois partidos políticos
existentes no Brasil, sofreram modificações nas suas bases: - O Partido
Conservador, sentindo que o tronco ameaçava a ruir - pois os alicerces do
Império estavam sendo abalados pelo vendaval das conquistas sociais do momento.
Aliaram mais forças, abraçando e chamando a si a MILÍCIA NEGRA.
Os liberais por outro lado, mais
esclarecidos pela realidade da época, abraçaram o movimento novo ,a República,
que já se mostrava clara como o sol. Foi neste tempo, a 16 de abril de 1889,
que o povo da Laje promoveu uma Conferência Republicana com a presença de Nilo
Peçanha, campista ilustre, um dos propagadores daquelas idéias avançadas,
iniciadas e também propagadas por Silva Jardim. Debaixo de festa e de júbilo
popular, foi recebido entre nós o jovem tribuno que transmitiria ao povo a
mensagem de fé e de redenção política, ditada pela nova ordem: A REPÚBLICA.
A conferência republicana
realizar-se-ia nessa noite, no salão amplo do hotel então existente ao lado
direito da Igreja Matriz, precisamente no local em que hoje se encontra a Praça
1º de Maio.
No momento em que se achava reunida a
massa popular, em cujo seio se viam muitíssimas famílias da localidade, foi o
prédio atacado pela Força Pública, por ordem do Tenente Gatto, capitaneando uns
400 negros libertos, a mando dos escravocratas que convenceram os negros de que
os republicanos pretendiam escravizá-los de novo. Estava presente o Dr. Nilo
Peçanha, que escapou.
Vinte e cinco dias depois desses
acontecimentos que ficaram brilhando na história do Brasil, com o nome de
"As Garrafadas de Laje do Muriaé", isto é, a 10 de maio de 1889, fez-se
o pleito eleitoral para a escolha dos vereadores à Câmara Municipal de São José
do Avaí. Pode-se, por isso compreender quão tenso deveria ser, ainda, o
ambiente político da zona.
Nas eleições que se seguiram, ainda
na monarquia no glorioso dia 10 de maio de 1889, o eleitorado de Laje do
.Muriaé foi decisivo na vitória de se compor a primeira Câmara Republicana do
Brasil" 4.
Evolução Política:
Em 1850 Laje é elevada à .categoria
de curato, em 1857 passa a freguesia e em 1861 se torna Paróquia.
De acordo com: o Decreto-Lei. N.º 905
de 10 de julho de 1939, ;foi. criada. a Sub-coletoria Estadual de Rendas de:
Laje do Muriaé.
No dia 09 de março de 1940 essa
Sub-Coletoria foi. transferida. para Comendador Venâncio. Surgindo assim um
movimento, chefiado pela Sra. Augusta Gomes da Silva, contestando essa
transferência.
No dia 23 de maio de 1940, por ato do
Secretário Walfredo Martins, foi reconduzida para Laje. a disputa.: da Sub
Coletoria Estadual.
A Sub-Coletoria Estadual passou à
Coletoria no dia 14 de agosto de 1945, de acordo com o decreto n.º 1.425.
Exerceu a função de coletor o Sr. Adhemar Ligiéro.
Emancipação de Laje do Muriaé:
Finalmente em 1962, Laje foi
desmembrada do Município de Itaperuna.
O Comitê Pro-Emancipação foi
presidido pelo meritíssimo Juiz Dr. Ronaldo de Souza. O resultado do comitê foi
o seguinte:
Número de eleitores inscritos - 1498
Eleitores que fizeram uso do voto -
1021
Voltaram a favor da emancipação -
1014
Votaram contra a emancipação - 02
Votos em branco -05.
Duas figuras de renome em Laje do
Muriaé lutaram pela sua emancipação: Pe. José Brandão e o Deputado Nicanor
Campanário.
Lei n.º 5.045, de 07 de março de 1962,
projeto no 62/62:
Art. 1º -, Fica criado o Município de
Laje do Muriaé, com sede na atual vila do mesmo nome e constituído pelo
território do atual distrito de igual nome, desmembrado do município de
Itaperuna.
Art. 2º - O território do município
de Laje do Muriaé compreende-se dentro dos seguintes limites: ao norte, com
Comendador Venâncio (5º distrito de Itaperuna); ao sul com o município de
Miracema; a leste com Retiro do Muriaé (6º distrito de Itaperuna) e a oeste,
com o Estado de Minas Gerais medindo sua superfície (duzentos e quinze
quilômetros quadrados) 215 km2.
Art. 3º-O município de Laje do Muriaé
terá sua Câmara Municipal composta de sete vereadores, na forma disposta na Lei
Orgânica das Municipalidades. (Lei n.º 2.132 de 1939)., constituindo-se e
instalando-se o município na forma do artigo 14, da lei nº109.
Parágrafo Único - o ato de instalação
será presidido pelo Juiz de Direito que exercer na região as funções de Juiz
Eleitoral.
Art. 4º - Em dia que for designado
pelo Tribunal Regional Eleitoral processar-se-ão as eleições do Prefeito,
Vice-Prefeito e Vereadores do município.
Parágrafo Único - Os mandatos do
Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores eleitos, na conformidade desta lei,
terminarão
Art. 5º - Dentro de 30 dias da posse,
o Prefeito remeterá à Câmara Municipal a proposta orçamentária.
Art. 6º - Após a sanção, pelo Prefeito,
da Lei Orçamentária, a Câmara Municipal fixará os subsídios do Prefeito e
Vereadores para a primeira legislatura.
Art. 7º - A legislação vigente no
município de Itaperuna será aplicável no município de Laje do Muriaé, enquanto
este não elaborar sua legislação própria.
Art. 8º - O Departamento das
Municipalidades prestará a assistência necessária à organização dos serviços do
município à ser instalado.
Art. 9º - Fica o Poder Executivo
autorizado a abrir o crédito especial de dois milhões de cruzeiros que será
entregue, a titulo de auxilio, à Prefeitura Municipal de Laje do Muriaé.
Art. 10º - Esta lei entrará em vigor
na data de, sua publicação, revogada as disposições em contrário.
Palácio do Governo, em Niterói, 7 de
março de 1962.
Celso Peçanha.
CARACTERIZAÇÃO DO
TERRITÓRIO
Relevo:
Pertence ao Maciço Atlântico, com
altitudes médias, acima de 250 metros, terreno ligeiramente ondulado com
pequenas elevações, onde se destaca a Serra da Divisa (Laje- Miracema), cujo
ponto culminante atinge 730 metros.
Hidrografia:
Apresenta rica e exuberante,
principalmente a área que abrange o rio Muriaé e tem os seguintes ribeirões:
Barro Branco, Tanque, São Joaquim, Cinco, Branco e Belmonte.
Clima:
E ameno e agradável, com as seguintes
características: a região possui um clima tropical semi-úmido e com médias
anuais entre 23º e 25º. O índice pluviométrico é superior a 1.500 mm.
Mesotérmico com verões quentes, úmidos e chuvosos.
Localização:
A vila de Laje do Muriaé, sede
do Distrito, fica situada à margem direita do rio Muriaé, na parte setentrional
do Distrito, tendo como limites: Ao norte: Itaperuna; ao sul Miracema; a leste:
Itaperuna e a oeste com o Estado de Minas Gerais.
Área:
O município de Laje do Muriaé
tem uma área de 215 km2.
POPULAÇÃO
O povoamento da localidade
ocorreu lentamente, devido a falta do elemento branco, uma vez que a população
predominante na área, constituía-se de índios puris. Com a vinda do negro para
mão-de-obra nas grandes fazendas produtoras de café e os senhores de engenho, o
branco de origem européia, começou povoar Laje.
ASPECTO ECONÔMICO
Devido a sua topografia privilegiada,
o baixo Muriaé, com abundância de mão-de-obra escrava para o cultivo da cana e
a fixação de famílias lusos-espanholas à frente de seus engenhos foi-se
tornando importante, como produtor de cana-de-açúcar e elevando o nome da
Freguesia de Laje.
Eram concedidas sesmarias para quem
quisesse cultivar a cana-de-açúcar, a pessoas que não possuíam títulos de
propriedade da terra. Ao mesmo tempo ocorreu a interiorização do homem às
terras férteis do baixo Muriaé.
Os mestiços, descendentes de escravos
e índios, chegavam a uma clareira desabitada, erguiam uma choupana de sapé,
passando a criar galinhas, plantando feijão, mandioca e tirando o sustento da
terra, quando apareciam senhores vindos de cidades estranhas com titulo de
proprietário da terra, que o caboclo não tinha.
Agricultura:
Enquanto no Baixo Muriaé predominava
a lavoura de cana-de-açúcar, o Alto Muriaé era explorado pêlos garimpeiros, no
desejo de encontrarem ouro e diamante.
"Entre os faiscadores de ouro,
cita-se o nome de Pedro Cacunda, que mais ou menos em 1 740, deu ciência ao Rei
de Portugal da existência de grande jazida de ouro, naquela zona".5
Toda área rural de Laje do Muriaé
sofreu um processamento com relação a sua cultura. Primeiro surgiu a
monocultura do algodão, depois da cana-de-açúcar e mais adiante a do café, que
foi sem dúvida o período áureo. Com a decadência da produção do café, surgiu a
monocultura do arroz, que se faz presente até hoje.
Indústria:
Em 1876, o alemão João Henrique
Caspary, estabeleceu-se em Laje, fundando uma fábrica de cerveja. Contou, com a
sociedade do Sr. Mariano José Garcia, cuja firma chamava-se Garcia &
Caspary. Esta foi a primeira fábrica de bebidas existente nestas redondezas.
Sabe-se também da existência de uma
fábrica de sabão, uma serraria, 03 máquinas de beneficiar café, 04 máquinas de
beneficiar arroz, 02 fábricas de aguardente, 02 olarias, 0l fábrica de móveis e
moinhos de fubá 6.
Artesanato:
Era efetuado por artesões anônimos
que trabalhavam com grande saber, na fabricação de cestos, de fibras ou bambu,
moringa ou talha de barro ou argila e objetos em madeira tais como: colher de
pau, pilão, socadores e gamelas. Engendravam também abanos e vassouras de palha
ou cipó.
Existiu, em épocas mais remotas, a
arte indígena, que floresceu com trabalhos de pedra e barro.
Por volta de 1855, surgiram artesões
que confeccionavam sandálias, bolsas, tamancos e sapatos de couro. Nesta época,
as mulheres se ocupavam com o bordado, tricô e crochê.
Comércio:
Em 1842, surgiam em Laje três casas
comerciais. Nelas vendia-se de tudo, tornando-se os centros convergentes da
população urbana e rural.
Em 1960 já contava com 34 casas
comerciais, situadas na zona urbana, 33 na zona rural e 0l cooperativa de
crédito bancário - ITAPUCA.
Transportes:
O transporte rudimentar da Laje era
feito através de canoas, que faziam a travessia do rio Muriaé, interligando
Laje com Itaperuna, Natividade e Porciúncula. O cavalo era muito utilizado e
teve grande desempenho como veículo transportador de produtos da zona rural
para a zona urbana.
Com o passar do tempo, surgiu a
charrete e finalmente os caminhões e carros.
As estradas se apresentavam em
péssimo estado. Eram estreita e ligavam a zona urbana com a zona rural.
Por muitas vezes, em dias de chuvas,
ficavam completamente interditadas.
INFRA-ESTRUTURA SOCIAL
Habitação:
Em 1832, as primeiras habitações eram
feitas de tábuas, onde residiam os puris. Depois, foram surgindo as casas com
paredes de barro e telhado de pindobas. Houve e há casas com construções
sólidas, em madeira, e taipá, cujas fachadas apresentavam geralmente, janelas e
portas quadradas, pintadas de azul colonial ou marron barroco. As casas tinham
cor branca, possuíam porões, quartos, cozinhas, oferecendo relativo conforto. O
banheiro ficava fora da casa, não fazia parte do conjunto. Estas casas eram
reservadas a pessoas de alto poder aquisitivo. O restante da população vivia em
casas de sapé ou pindoba.
A casa mais antiga de Laje do Muriaé
fica localizada à rua Garcia Pereira, esquina com a Praça Pe. Matins e foi
construída em 1854, pelo bandeirante José Ferreira César. Na parte térrea
existia um salão ocupado por um bilhar.
Abastecimento
de Água e Esgoto:
Não existia abastecimento de água e
esgoto, usava-se a água de cacimba e de poço.
Todo despejo de fezes e detritos eram
feitos em valas por trás das casas ou em frente destas.
Em 1925, o Coronel José Garcia de
Freitas, Prefeito de Itaperuna, construiu a rede de água em Laje do Muriaé,
utilizando a água das chácaras Maestro Masini e Resende de Paula. Sendo estas
duas fontes de água potável insuficientes para abastecer a população, o Dr. J.
Bruno Silveira construiu mais um reservatório, em 1955.
Sistema de Comunicação:
Em 1886, Reis Távora montou em Laje
do Muriaé, a primeira oficina tipográfica e publicou o primeiro jornal com nome
de "O LAJENSE".
O segundo jornal surgiu em 1887,
"O JARDINEIRO", fundado por Ernestina Fagundes Verela, irmã do poeta
Fagundes Varela. Seu primeiro exemplar foi editado em 31 de março de 1887.
Outros jornais: "O
BINÓCULO", redigido por Antônio Augusto da Cunha; "O 3º
DISTRITO", fundado por José Ignes dos Reis e Dr Platão H. Garcia; "O
GRITO DA LAJE", diretores: Pe. João Batista dos Reis, Felisbelo Fernandes
Friaça e Octavio Marinho 8.
O serviço do correio era feito
através de cavalos que iam buscar o malote na estação de Comendador Venâncio.
Existia em Laje, uma rede telefônica
criada pelo Major Carlino Comes da Silva, rede esta que interligava Laje a
Comendador Venâncio e durou de dois a três anos.9
O primeiro meio de comunicação que
existiu foi a missiva (mensagem) levada por homens que iam montados a cavalos,
a grandes e pequenas distâncias.
Associações:
Nos primórdios do século XX surgiu em
Laje uma sociedade anônima, que não foi registrada e tinha por nome
"Senhoras Piedosas". Eram senhoras da sociedade que levavam
alimentação, remédios, roupas e também apoio moral aos menos favorecidos pela
sorte.
A "Legião Brasileira"
funcionou de 1910 a 1920, sob a presidência da Sra. Augusta Comes da Silva.
Laje do Muriaé foi a primeira
localidade a fundar uma Loja Maçônica, nestas redondezas, no ano de 1870 e teve
como um dos seus presidentes o Pe. João Justiniano Teixeira de Carvalho. Esta
loja funcionou na rua principal e desapareceu por volta de 1879, devido ao
espírito religioso da população.
Esportes:
- Antes de 1900, os divertimentos
mais comuns eram: o jogo do pião, jogo da malha e o da peteca.
O Dr. Inácio Guedes Furtado Leite
iniciou o futebol, por volta de 1905, na comunidade.
Em 1910, foi fundado o primeiro clube
de futebol, "O Lajense". Mas, somente em 1916 este ficou organizado.
Em 1919, existiam dois clubes: O "Fluminense Futebol Clube" e a
"Associação Atlética Lajense", os quais mais tarde fundiram-se
formando o "Laje Esporte Clube". Este passou por uma fase difícil,
quase desaparecendo. O desportista Celso Pinto Côre reorganizou-o em 1939,
melhorando sua técnica futebolística.
Em 1944, o "Laje Esporte
Clube" integrou-se na liga Itaperunense de Desporte (LID), sagrando-se
campeão.10
Religião:
Coube à religião Católica Apostólica
Romana a prioridade em Laje do Muriaé, visto congregar maior número de pessoas.
O primeiro templo construído foi a Igreja do Rosário, localizada no Largo do
Rosário, hoje Morro Pe. João. Esta foi erguida pelo povo e sem autorização
eclesiástica, razão pela qual rezavam somente ladainhas, uma vez que não cabia
ao clero designar um padre. Essa igreja teve pouca duração e logo foi demolida.
A segunda igreja foi a Matriz Nossa
Senhora da Piedade, cuja data de fundação é ignorada, contudo, foi reconstruída
em 1909 e em 1926, A primeira reconstruçâo-1909, foi feita em partes, sendo
interrompida por falta de recursos financeiros.11
O primeiro vigário foi o Pe. João
Justiniano Teixeira de Carvalho. Com o tempo, o padre adquiriu a Fazenda Santa
Paz, abandonando a Freguesia. Os padres vinham periodicamente de Capivara
(Palma- MG) e Patrocínio do Muriaé, a fim de oficiarem os serviços religiosos.
O povo. não agradando da situação,
começou a queixar, sendo atendido. Foi quando veio para a Freguesia o Pe.
Antônio Martins Machado (São Caetano- MG). Este permaneceu até sua morte na
freguesia, sendo substituído pelo Pe. Manoel Lobato Carneiro da Cunha.
Em 1889. pela primeira vez, Laje
recebia um Bispô, D. Antônio de Macedo Costa. Para substituir o Pe. Lobato foi
nomeado o Pe. José Pires Ferreira de Moraes, vindo de Espírito Santo. Tendo
este falecido, foi substituído pelo Pe. João Batista dos Reis em 05 de agosto
de 1896, exercendo os ofícios religiosos até 1947, quando faleceu. sendo
substituído pelo Pe. José Brandao.12
"Desde o início da Igreja. ainda
no período monárquico. que em sua sacristia, era notório enterrar pessoas de
destaque. As lápides eram de mármores, com ricas inscrições. "As duas
últimas pessoas enterradas na sacristia da primeira igreja matriz de Laje do
Muriaé, foram: o fazendeiro José Basílio de Freitas, assassinado por um escravo
e o negociante Antônio Pires do Couto".
Nesta época. o cemitério pertencia à
igreja e pelo que se sabe. existia uma lei proibitiva às pessoas não católicas
de serem sepultadas no mesmo. Foi quando faleceu o engenheiro Herman Neigle,
natural da Suiça; sendo protestante (calvinista), não pôde ser enterrado no
cemitério.13
Existe também a Capela Santo Antônio
construída, no morro do mesmo nome.
Em 23 de agosto de 1931, surge a
religião Protestante Batista, com 100 membros e tendo como primeiro pastor o
Dr. Erodice de Queiroz. A nova igreja adotou o nome de Igreja Batista de Laje
do Mu riaé.14
Com a introdução de escravos nas
fazendas de Laje, a liturgia da seita africana umbandista viveu por muito tempo
praticamente omissa, até que, em 1890 teve inicio oficial. A mais importante
mãe-de-santo de Laje do Muriaé é a Sra. Maria Carreiro, que no decorrer de
muitos anos, vem processando o Espiritismo. tendo como sede o "Centro
Espírita São Sebastião", próximo à Fazenda Botafogo.
Aspecto Cultural:
Os portugueses aqui chegados, em
contato com o índio e com o negro, não se preocupavam com outra coisa, senão
com construções de fazendas, plantio, estradas, etc.
A chegada do Maestro Giuseppe Mazzini
em 1860, o qual havia sido professor na Corte de D. Pedro II e que teve por
aluna de harpa a Princesa Isabel, foi importantíssima. Homem de cultura
extraordinária e exímio musicista, modificou completamente a vida cultural
lajense, fazendo surgir saraus, onde predominavam o bom gosto na indumentária,
no canto e na música (especialmente o piano). Com o Maestro Mazzini, Laje teve
indubitavelmente o seu período áureo.15
O segundo período em que a cultura
lajense chegou a um amplo desenvolvimento, foi a partir de 1887 quando a
família do Dr. Emiliano Fagundes Varela, pai do notável poeta Luis Nicolau
Fagundes Varela, chegou a Laje com suas duas filhas: a poetisa Ernestina
Fagundes Varela e Maria Luísa Fagundes Varela, professora de renome.
Em 1886, o Sr. Tomé Távara, chegou em
Laje e procurou organizar uma sociedade dramática que denominou-se
"Sociedade Familiar Dramática da Laje do Muriaé"; esta funcionava na
rua Garcia Pereira.
Durante pouco tempo funcionou o
cinema mudo, com o passar do tempo e a atualização deste, ergue-se o prédio, na
rua Garcia Pereira. O cinema mudo teve como diretor o Sr. Nascimento.16
Laje do Muriaé, sempre possuiu bandas
de músicas. Estas eram organizadas pelos fazendeiros, e os músicos, na maioria,
eram escravos. Só os regentes recebiam ordenado e eram homens livres. As bandas
tocavam gratuitamente.
A primeira banda do povoado foi
organizada pelo Sr. Francisco Tateri em 1881. Com o falecimento deste maestro,
o Sr. José reorganizou-a e mais tarde sob a regência dos Srs. Antônio Teixeira,
Francisco Teixeira e José Amâncio Garcia Bastos, foi denominada "Lira de
Ouro".
Em 1905 surgiu a "Lira
Lajense", sob a regência do abalizado Maestro Nicolino César Mazzini,
filho do notável Maestro Giuseppe Mazzini. Esta existiu até 1921.
Outra banda foi organizada em Laje:
"Sociedade Musical 5 de Novembro". Recebeu este nome em homenagem à
data natalícia do Pe. João Batista dos Reis. Esta sociedade musical manteve-se
graças aos esforços e compreensão de seus componentes.
Na manhã de 25 de outubro de 1953,
Laje foi abalada por um incêndio, na sede da banda musical "5 de
Novembro", na praça Pe. Martins. Essa sede acolhia todo o arquivo dessa
associação musical deixado pelo Maestro Giuseppe Mazzini. Acredita-se que este
incêndio originou-se de uma ponta de cigarro. Devido ao amor dos lajenses pela
referida banda ser tão grande, em poucos meses o prédio foi reconstruído com
ajuda do povo em geral.
Manifestação Folclórica:
Lenda do Zê do Arrastado:
"Escravo foragido aos trabalhos
da fazenda do sinhô" mineiro ríspido e inflexível nos seus ditames de
senhor de escravo. Alcançado na fuga pelo feitor, que tinha carta branca do
patrão, seguiu-se o castigo imediato as chibatadas clássicas do estilo...
O escravo, depois do castigo
preliminar, foi amarrado ao rabo de burro que se pôs a trote a caminho da Casa
da Fazenda. De mãos atadas, juntas, é certo que teria o escravo de correr,
também a fim de poder acompanhar a marcha do animal. Como castigo secundário,
estava proibido de alimentar-se e beber água tentadora que os córregos,
cortando de vez em quando o caminho, forneciam abundantemente, cantante e
fresca...
No sopé do morro que domina ao poente
a localidade da Laje do Muriaé, houve paragem obrigatória do cavaleiro e,
logicamente, do séquito sinistro, a fim de que o feitor, mais do que ninguém,
descansasse um pouco.
O escravo não resistiu à tentação da
água clara e fria. Mal, porém, curvou-se a ela, sofregamente, na ânsia,
fisiológica de tragá-la, o feitor, para adverti-lo, do castigo preconizado,
vibrou-lhe larga e inesperada chibatada que zunindo, estalou-lhe no lombo...
O burro., que era meio arisco,
espantando-se com o gesto intempestivo e desastrado do feitor - deu de galopar,
desembestado, pelo morro acima, arrastando, entre as pedras da estrada, o
escravo que caíra por não ter podido acompanhar a carreira veloz do animal em
disparada...
Quando, no topo do morro, o burro,
por acaso, parou, ou se deteve, dominado de cansaço - o Escravo José, tinha a
cabeça esfacelada de chocar-se contra as pedras do caminho.
Naquele lugar, depois: mãos piedosas
ergueram uma cruz, .à margem da estrada para perpetuar a memória da ocorrência,
E, até hoje a Cruz do Zê Arrastado, no Morro do Pau-d' Alho, faz milagres.
Quando a seca maltrata a plantação, o
sol calcina a terra e faz minguar todas as nascentes, prenúncio de miséria, o
povo, penitente, em charola, conduzindo pedras no alto da cabeça, para abrandar
e comover o coração de Deus; vão depositá-las ao pé da Cruz de Zê Arrastado,
suplicando chuva àquele escravo que morreu sedento.
Lenda do Basto Seco:
"A maldade de senhor de escravos,
às vezes, não tem limites e de tal modo se avantaja no mal que a própria morte
não é suficiente a encobrir os seus cometimentos. Assim aconteceu a um daqueles
Bastos, entre os muitos que viveram na Laje do Muriaé, conforme registro de
óbito em poder, "faleceu de consumpção" aos 30 anos de idade.
Era homem terrível tinha o hábito de
infligir aos negros da fazenda os mais ásperos e hediondos castigos. Depois de
morto, haveria de pagar os crimes monstruosos que perpetuara contra os
escravos... Praga de Negro Velho!...
A terra não o comeu. Foi encontrado
na Matriz, local de seu sepultamento, quando lhe abriram a cova, cinco anos
depois, mumificado, seco. Enterraram-no de novo: anos depois foi novamente
desenterrado, ainda seco e duro. .. Recusava-se a terra de comê-lo. Precisava
de muita missa o Basto Seco, o tal cognome lhe deram. Levaram-no para o
cemitério onde foi sepultado mais uma vez. . . Reencontrado, lançado ao rio e,
sem querer, foi pescado abaixo, no poço do Remanso... Conduziram-no, afinal,
para o forro de uma casa velha, já que a terra e o rio negaram-lhe aconchego...
À noite, os ratos faziam barulho, sapateando dentro da sua carcassa ressecada.
Enterrado, depois, dentro da parede da casa da Escola Pública, a parede estufou
para fora, criando estranha barriga. . -
Não se sabe, hoje onde ele se
encontra, cumprindo seu misterioso fadário, mas, o que se sabe é que no forro
de toda casa velha, na Laje daquele tempo, havia Basto Seco, amedrontando,
assombrando crianças..!'
Educação:
A instrução na zona rural era mantida
por professores remunerados pêlos fazendeiros. Estes permaneciam nas fazendas e
atendiam a todas as séries, sem número estipulados de alunos e às vezes
excediam à carga horária. Os primeiros mestres de Laje do Muriaé, foram:
Francisco Mestre (conhecido como Chico), Sra. Clara Maldonado Leite, Maria
Luisa Fagundes Varela e Ernestina Fagundes Varela.
Laje possuía um colégio particular,
sob a direção de Maria Luísa Fagundes Varela, o qual desapareceu em 1889.
Antes de 1891 foi criado o Colégio
Macaúbas, particular, onde Carlos Silva e João Carlos Alvarenga atuaram como
professores.
A professora Guiomar Ramalho Gomes
também possuiu uma escola particular, onde só estudavam pessoas do sexo
feminino.
Surge o Colégio Nossa Senhora da
Piedade, em fevereiro de 1910, tendo como Diretora a Sra. Emília Diniz Ligiéro.
Tal colégio tinha como regime o semi-internato e funcionava na residência da
diretora. Em 1940 suas portas foram fechadas.
Mais adiante surgiram na zona rural,
escolas mantidas pela Prefeitura, num total de 07 escolas, abrangendo o número
de 174 alunos.
Existiu também o Colégio das Marietas
destinado ao sexo feminino, onde ensinavam tricô, croché, bordado, etc.
O grupo Escolar Comandante Ary
Parreiras foi criado em 1937.
Havia também 07 Escolas Estaduais
Isoladas, funcionando na zona rural, com 270 alunos no total.
O Ginásio Maestro Mazzini, tinha em
anexo a Escola Normal Álvaro Diniz e o Curso Primário. A princípio, este
funcionava no prédio do Grupo Escolar Comandante Ary Parreiras, mais tarde, em
1952. foi inaugurado seu próprio prédio, na rua Ferreira César, tendo como
primeira diretora a Sra. Maria Clara Diniz Ligiéro Coelho.
Em 1960, formou-se a primeira turma
de professores da Escola Normal Alvaro Diniz.
O Ginásio Maestro Mazzini pertenceu à
Campanha Nacional de Educandários Gratuitos e foi criado pela Portaria n.º 127
de 10 de fevereiro de 1953, do Ministério da Educação e Cultura.
Saúde:
Antes da República, Laje possuía três
farmácias: a do Sr. Antônio Lobo, criada mais ou menos em 1870, situada no
centro da principal rua. Com aparecimento da farmácia do Sr. Manoel Xavier de
Souza, a do Sr. Lobo desapareceu. Anos depois, o Sr. Carolino Gomes da Silva
instalou a "Farmácia Confiança", no largo da Matriz. Em 1887 o farmacêutico
José Lopes da Costa Souza Júnior, estabeleceu-se em Laje com sua farmácia
"Lopes Júnior, sendo substituído, após sua morte, pelo farmacêutico Manoel
Costa da Gama Vilas Boas. Este, não julgando compensadores os lucros obtidos na
farmácia, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando sua farmácia para o Sr.
Álvaro Augusto Moraes Diniz, em 1890.
Laje foi assolada duas vezes por
grandes epidemias: a de 1871 (cólera mórbus), em que não se podia formar
diagnóstico porque a febre era complicada pela hepatite e icterícia. A de 1917
foi um epidemia da gripe denominada espanhola.
No final do século XIX, o Dr.
Fernandes Figueira iniciou Clínica em Laje.
Contou a localidade lajense com um
Posto de Higiene, a Maternidade Abílio Gaberto, o asilo "Amparo à Velhice
e Alberto Noturno". O Posto de Higiene, criado em 1942, tinha em anexo uma
maternidade e também fornecia remédios, dietas e serviços médicos gratuitos.
Destacou-se o Dr. Ary Gomes Rosmaninho.
Em 15 de agosto de 1948, às 16 horas
no salão do Posto de Higiene foi criada a Associação de Proteção à Maternidade
e à Infância, sob a presidência da Sra. Lizete Sette Marinho.
Nota de rodapé
1.- Vig. Antônio Martins Machado.
2-Major Porphfírio Henrique:. A Terra
da Promissão p.317.
3 - Entrevista com o Poeta Sol Sobral
4 - Município em Destaque. Estado do
Rio de Janeiro.1983.
5 - Manoel Ligíero. O Homem, o Rio e
a Terra. p.41.
6 - Ibid.
7 - Leopoldo Muylaert. Álbum do
Município de Itaperuna.
8 - Manoel Ligiéro. O Homem, o Rio e
a Terra. p. 175.
.9 - M. Caspary. Há mais de meio
século.P.130/131.
10- H. M. Caspary. Há mais de meio
século. p.130/131.
11 - Major Porphírio Henriques. A
Terra da promissão p. 318/319.
12 - Ibid.
13 - H. M. Caspary. H mais de meio
século. p.130/130/131
14 - Ibid.
15 - Entrevista com o Sr. Delio
Nolasco.
16 - Entrevista ao Sr Wilson Garcia
Bastos.
17 - Manoel Ligiéro. O Homem, o Rio e
a Terra
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