Conta-se que três homens, dois de
origem portuguesa e um de origem luso-espanhola, foram os primeiros homens
civilizados a chegarem a estas terras, isto por volta do ano de 1832. O
primeiro que chegou foi José Ferreira César, o segundo José Bastos Pinto e o
terceiro José Garcia Pereira, vindos de Muriaé-MG, com suas respectivas
famílias.
Atestado de óbito de José
Ferreira César:
"Aos sete dias do mês de
maio de mil oitocentos e sessenta e oito, se sepultou nesta matriz de Nossa
Senhora da Piedade da Laje a José Ferreira César, que faleceu repentinamente de
uma congestão cerebral, na idade pouco mais ou menos de sessenta e oito anos,
sem sacramento por não dar tempo a que se chamasse um padre: achou-se o seu
testamento o qual estava aprovado...1
O testamento de José Ferreira
César:
"Em nome de Deus Amém. - Eu
José como Cristão Católico Apostólico Romano que sou e em a qual religião
nasci, fui educado e criado na qual me tenho conservado e espero morrer,
tendo-me deliberado fazer o meu testamento, como o faço de minha livre e
espontânea vontade, e em perfeito juízo e saúde perfeita, declaro minhas
disposições as quais quero que se cumpram pela maneira e forma seguinte depois
da minha morte:
Declaro que, quando eu falecer,
meu corpo seja conduzido para a Matriz desta Freguesia, ficando meu enterro à
disposição e acordo de meus filhos e testamenteiro. Declaro que as meninas. . .
e.
nascidas de. . . minha escrava
que foi hoje liberta, por carta por mim passada, são minhas filhas e, como tal,
as reconheço e por este as habilito que herdarão igualmente com os outros meus
filhos e herdeiros e, depois da minha morte peço e rogo a meu testamenteiro e
genro, Cândido Francisco de Paula, tomar conta das ditas minhas filhas. . . e.
. . a fim de tratar da educação delas, até que tenham idade de tomar estado, e
peço coadjuvar para este fim até o final, assim como peço mais ao meu
testamenteiro e genro para ter em sua companhia a dita (mãe das duas meninas).
Ficam gozando das suas liberdades, depois da minha morte, como se de ventre
livre nascessem, Domingos e sua mulher Rosa, Antônio de Nação e Eva Parda, os
quais liberto em remuneração aos bons serviços que me têm prestado. Meu escravo
Severino, depois da minha morte, ficará servindo a meu filho Francisco, pelo
prazo de dez anos, no fim dos quais ficará gozando da sua liberdade, como se
nascesse de ventre livre. Declaro que de minha terça tirar-se-á para a
liberdade dos escravos Domingos, Rosa, Antônio de Nação e de Eva, quinhentos
mil réis em dinheiro para a Matriz de Nossa Senhora da Piedade, quinhentos mil
réis para a Igreja de Santo Antônio e um conto de réis para.. mãe de minhas
filhas...e...e o restante da terça tirar-se-á mais quatrocentos mil réis para o
neto Joaquim, filho do meu genro e testamenteiro Cândido Francisco de Paula. O
meu testamenteiro pagará às Irmandades de São Francisco, Senhor do Bom Jesus e
Nossa Senhora das Dores os vencimentos que tiver. Por ocasião do meu enterro
mando que se dê na porta da Igreja cem mil réis de esmola aos pobres: Mandarão
dizer sete missas por descanso de minhalma e, quando completar um ano da data
do meu enterro, quero que se mande dizer outras sete missas e encomendação e
outros cem mil réis pela mesma forma repartidos de esmolas aos pobres na porta
da Igreja, no dia da última missa, que peco mandar dizer mais uma cada mês, até
se findar o ano (. . .).
Declaro mais que, depois do meu
falecimento, por minha letra acharem em meus assentos a declaração que eu dava
a alguém ou alguma promessa, rogo a meu testamenteiro em pronto cumpra e pague.
E desta forma tenho concluído este meu testamento e disposição de minha última
vontade que quero se cumpra e guarde depois da minha morte (. . .) E por este
plenamente revogo qualquer outro testamento anteriormente firmado (. . .)
Assinei neste arraial de Nossa Senhora da Piedade da Laje, Município dos Campos
dos Goitacazes, aos 25 dias do mês de setembro de mil oitocentos e sessenta e
seis. JOSÉ FERREIRA CESAR.
Sobre a origem do nome, Laje do
Muriaé, existem duas versões:
1ª- "Era no tempo ainda dos
bandeirantes. A povoação vinha recebendo aos poucos os seus novos habitantes,
no rio Muriaé, na altura onde se acha hoje o casario da vila, existe uma laje
de pedra no rio, da qual se avizinhavam os primeiros povoadores do lugar,
servindo de ponto de referência aos encontros. Dai era freqüente eles dizeram:
"Vamos encontrar na laje"; "Vamos até a laje"; "Fulano
está na laje". O lugar ia crescendo e as referências a "laje"
iam sendo repetidas. Por isso, o nome da atual vila de Laje do Muriaé teve
origem na laje de pedra do rio que a banha e é um dos motivos do seu crescente
progresso "2
2ª- Afirma-se que índios puris
(primitivos habitantes) pertenciam à raça Lagide (Laje), e que eram oriundos
dos GÊS, cujo grupo pertencia aos Goitacases e aos Coroados. Assim sendo, o
nome de Laje veio da classificação dos puris (Lágides) e não, de uma pedra
(laje), existente no rio 3.
Movimento Republicano em Laje do Muriaé:
"Os dois partidos políticos
existentes no Brasil, sofreram modificações nas suas bases: - O Partido
Conservador, sentindo que o tronco ameaçava a ruir - pois os alicerces do
Império estavam sendo abalados pelo vendaval das conquistas sociais do momento.
Aliaram mais forças, abraçando e chamando a si a MILÍCIA NEGRA.
Os liberais por outro lado, mais
esclarecidos pela realidade da época, abraçaram o movimento novo ,a República,
que já se mostrava clara como o sol. Foi neste tempo, a 16 de abril de 1889,
que o povo da Laje promoveu uma Conferência Republicana com a presença de Nilo
Peçanha, campista ilustre, um dos propagadores daquelas idéias avançadas,
iniciadas e também propagadas por Silva Jardim. Debaixo de festa e de júbilo
popular, foi recebido entre nós o jovem tribuno que transmitiria ao povo a
mensagem de fé e de redenção política, ditada pela nova ordem: A REPÚBLICA.
A conferência republicana
realizar-se-ia nessa noite, no salão amplo do hotel então existente ao lado
direito da Igreja Matriz, precisamente no local em que hoje se encontra a Praça
1º de Maio.
No momento em que se achava
reunida a massa popular, em cujo seio se viam muitíssimas famílias da
localidade, foi o prédio atacado pela Força Pública, por ordem do Tenente
Gatto, capitaneando uns 400 negros libertos, a mando dos escravocratas que
convenceram os negros de que os republicanos pretendiam escravizá-los de novo.
Estava presente o Dr. Nilo Peçanha, que escapou.
Vinte e cinco dias depois desses
acontecimentos que ficaram brilhando na história do Brasil, com o nome de
"As Garrafadas de Laje do Muriaé", isto é, a 10 de maio de 1889, fez-se
o pleito eleitoral para a escolha dos vereadores à Câmara Municipal de São José
do Avaí. Pode-se, por isso compreender quão tenso deveria ser, ainda, o
ambiente político da zona.
Nas eleições que se seguiram,
ainda na monarquia no glorioso dia 10 de maio de 1889, o eleitorado de Laje do
.Muriaé foi decisivo na vitória de se compor a primeira Câmara Republicana do
Brasil" 4.
Evolução Política:
Em 1850 Laje é elevada à
.categoria de curato, em 1857 passa a freguesia e em 1861 se torna Paróquia.
De acordo com: o Decreto-Lei. N.º
905 de 10 de julho de 1939, ;foi. criada. a Sub-coletoria Estadual de Rendas
de: Laje do Muriaé.
No dia 09 de março de 1940 essa
Sub-Coletoria foi. transferida. para Comendador Venâncio. Surgindo assim um
movimento, chefiado pela Sra. Augusta Gomes da Silva, contestando essa
transferência.
No dia 23 de maio de 1940, por
ato do Secretário Walfredo Martins, foi reconduzida para Laje. a disputa.: da
Sub Coletoria Estadual.
A Sub-Coletoria Estadual passou à
Coletoria no dia 14 de agosto de 1945, de acordo com o decreto n.º 1.425.
Exerceu a função de coletor o Sr. Adhemar Ligiéro.
Emancipação de Laje do
Muriaé:
Finalmente em 1962, Laje foi
desmembrada do Município de Itaperuna.
O Comitê Pro-Emancipação foi
presidido pelo meritíssimo Juiz Dr. Ronaldo de Souza. O resultado do comitê foi
o seguinte:
Número de eleitores inscritos -
1498
Eleitores que fizeram uso do voto
- 1021
Voltaram a favor da emancipação -
1014
Votaram contra a emancipação - 02
Votos em branco -05.
Duas figuras de renome em Laje do
Muriaé lutaram pela sua emancipação: Pe. José Brandão e o Deputado Nicanor
Campanário.
Lei n.º 5.045, de 07 de março de
1962, projeto no 62/62:
Art. 1º -, Fica criado o Município
de Laje do Muriaé, com sede na atual vila do mesmo nome e constituído pelo
território do atual distrito de igual nome, desmembrado do município de
Itaperuna.
Art. 2º - O território do
município de Laje do Muriaé compreende-se dentro dos seguintes limites: ao norte,
com Comendador Venâncio (5º distrito de Itaperuna); ao sul com o município de
Miracema; a leste com Retiro do Muriaé (6º distrito de Itaperuna) e a oeste,
com o Estado de Minas Gerais medindo sua superfície (duzentos e quinze
quilômetros quadrados) 215 km2.
Art. 3º-O município de Laje do
Muriaé terá sua Câmara Municipal composta de sete vereadores, na forma disposta
na Lei Orgânica das Municipalidades. (Lei n.º 2.132 de 1939)., constituindo-se
e instalando-se o município na forma do artigo 14, da lei nº109.
Parágrafo Único - o ato de
instalação será presidido pelo Juiz de Direito que exercer na região as funções
de Juiz Eleitoral.
Art. 4º - Em dia que for
designado pelo Tribunal Regional Eleitoral processar-se-ão as eleições do
Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores do município.
Parágrafo Único - Os mandatos do
Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores eleitos, na conformidade desta lei,
terminarão
Art. 5º - Dentro de 30 dias da
posse, o Prefeito remeterá à Câmara Municipal a proposta orçamentária.
Art. 6º - Após a sanção, pelo
Prefeito, da Lei Orçamentária, a Câmara Municipal fixará os subsídios do
Prefeito e Vereadores para a primeira legislatura.
Art. 7º - A legislação vigente no
município de Itaperuna será aplicável no município de Laje do Muriaé, enquanto
este não elaborar sua legislação própria.
Art. 8º - O Departamento das
Municipalidades prestará a assistência necessária à organização dos serviços do
município à ser instalado.
Art. 9º - Fica o Poder Executivo
autorizado a abrir o crédito especial de dois milhões de cruzeiros que será
entregue, a titulo de auxilio, à Prefeitura Municipal de Laje do Muriaé.
Art. 10º - Esta lei entrará em vigor
na data de, sua publicação, revogada as disposições em contrário.
Palácio do Governo, em Niterói, 7
de março de 1962.
Celso Peçanha.
CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO
Relevo:
Pertence ao Maciço Atlântico, com
altitudes médias, acima de 250 metros, terreno ligeiramente ondulado com
pequenas elevações, onde se destaca a Serra da Divisa (Laje- Miracema), cujo
ponto culminante atinge 730 metros.
Hidrografia:
Clima:
E ameno e agradável, com as
seguintes características: a região possui um clima tropical semi-úmido e com
médias anuais entre 23º e 25º. O índice pluviométrico é superior a 1.500 mm.
Mesotérmico com verões quentes, úmidos e chuvosos.
Localização:
Área:
POPULAÇÃO
ASPECTO ECONÔMICO
Devido a sua topografia
privilegiada, o baixo Muriaé, com abundância de mão-de-obra escrava para o
cultivo da cana e a fixação de famílias lusos-espanholas à frente de seus
engenhos foi-se tornando importante, como produtor de cana-de-açúcar e elevando
o nome da Freguesia de Laje.
Eram concedidas sesmarias para
quem quisesse cultivar a cana-de-açúcar, a pessoas que não possuíam títulos de
propriedade da terra. Ao mesmo tempo ocorreu a interiorização do homem às
terras férteis do baixo Muriaé.
Os mestiços, descendentes de
escravos e índios, chegavam a uma clareira desabitada, erguiam uma choupana de
sapé, passando a criar galinhas, plantando feijão, mandioca e tirando o
sustento da terra, quando apareciam senhores vindos de cidades estranhas com
titulo de proprietário da terra, que o caboclo não tinha.
Agricultura:
Enquanto no Baixo Muriaé
predominava a lavoura de cana-de-açúcar, o Alto Muriaé era explorado pêlos
garimpeiros, no desejo de encontrarem ouro e diamante.
"Entre os faiscadores de
ouro, cita-se o nome de Pedro Cacunda, que mais ou menos em 1 740, deu ciência
ao Rei de Portugal da existência de grande jazida de ouro, naquela zona".5
Toda área rural de Laje do Muriaé
sofreu um processamento com relação a sua cultura. Primeiro surgiu a
monocultura do algodão, depois da cana-de-açúcar e mais adiante a do café, que
foi sem dúvida o período áureo. Com a decadência da produção do café, surgiu a
monocultura do arroz, que se faz presente até hoje.
Indústria:
Em 1876, o alemão João Henrique
Caspary, estabeleceu-se em Laje, fundando uma fábrica de cerveja. Contou, com a
sociedade do Sr. Mariano José Garcia, cuja firma chamava-se Garcia &
Caspary. Esta foi a primeira fábrica de bebidas existente nestas redondezas.
Sabe-se também da existência de
uma fábrica de sabão, uma serraria, 03 máquinas de beneficiar café, 04 máquinas
de beneficiar arroz, 02 fábricas de aguardente, 02 olarias, 0l fábrica de
móveis e moinhos de fubá 6.
Artesanato:
Era efetuado por artesões
anônimos que trabalhavam com grande saber, na fabricação de cestos, de fibras
ou bambu, moringa ou talha de barro ou argila e objetos em madeira tais como:
colher de pau, pilão, socadores e gamelas. Engendravam também abanos e
vassouras de palha ou cipó.
Existiu, em épocas mais remotas,
a arte indígena, que floresceu com trabalhos de pedra e barro.
Por volta de 1855, surgiram
artesões que confeccionavam sandálias, bolsas, tamancos e sapatos de couro.
Nesta época, as mulheres se ocupavam com o bordado, tricô e crochê.
Comércio:
Em 1842, surgiam em Laje três
casas comerciais. Nelas vendia-se de tudo, tornando-se os centros convergentes
da população urbana e rural.
Em 1960 já contava com 34 casas
comerciais, situadas na zona urbana, 33 na zona rural e 0l cooperativa de
crédito bancário - ITAPUCA.
Transportes:
O transporte rudimentar da Laje
era feito através de canoas, que faziam a travessia do rio Muriaé, interligando
Laje com Itaperuna, Natividade e Porciúncula. O cavalo era muito utilizado e
teve grande desempenho como veículo transportador de produtos da zona rural
para a zona urbana.
Com o passar do tempo, surgiu a
charrete e finalmente os caminhões e carros.
As estradas se apresentavam em
péssimo estado. Eram estreita e ligavam a zona urbana com a zona rural.
Por muitas vezes, em dias de
chuvas, ficavam completamente interditadas.
INFRA-ESTRUTURA SOCIAL
Habitação:
Em 1832, as primeiras habitações
eram feitas de tábuas, onde residiam os puris. Depois, foram surgindo as casas
com paredes de barro e telhado de pindobas. Houve e há casas com construções
sólidas, em madeira, e taipá, cujas fachadas apresentavam geralmente, janelas e
portas quadradas, pintadas de azul colonial ou marron barroco. As casas tinham
cor branca, possuíam porões, quartos, cozinhas, oferecendo relativo conforto. O
banheiro ficava fora da casa, não fazia parte do conjunto. Estas casas eram
reservadas a pessoas de alto poder aquisitivo. O restante da população vivia em
casas de sapé ou pindoba.
A casa mais antiga de Laje do
Muriaé fica localizada à rua Garcia Pereira, esquina com a Praça Pe. Matins e
foi construída em 1854, pelo bandeirante José Ferreira César. Na parte térrea
existia um salão ocupado por um bilhar.
Abastecimento de Água e
Esgoto:
Não existia abastecimento de água
e esgoto, usava-se a água de cacimba e de poço.
Todo despejo de fezes e detritos
eram feitos em valas por trás das casas ou em frente destas.
Em 1925, o Coronel José Garcia de
Freitas, Prefeito de Itaperuna, construiu a rede de água em Laje do Muriaé,
utilizando a água das chácaras Maestro Masini e Resende de Paula. Sendo estas
duas fontes de água potável insuficientes para abastecer a população, o Dr. J.
Bruno Silveira construiu mais um reservatório, em 1955.
Sistema de Comunicação:
Em 1886, Reis Távora montou em
Laje do Muriaé, a primeira oficina tipográfica e publicou o primeiro jornal com
nome de "O LAJENSE".
O segundo jornal surgiu em 1887,
"O JARDINEIRO", fundado por Ernestina Fagundes Verela, irmã do poeta
Fagundes Varela. Seu primeiro exemplar foi editado em 31 de março de 1887.7
Outros jornais: "O
BINÓCULO", redigido por Antônio Augusto da Cunha; "O 3º
DISTRITO", fundado por José Ignes dos Reis e Dr Platão H. Garcia; "O
GRITO DA LAJE", diretores: Pe. João Batista dos Reis, Felisbelo Fernandes
Friaça e Octavio Marinho 8.
O serviço do correio era feito
através de cavalos que iam buscar o malote na estação de Comendador Venâncio.
Existia em Laje, uma rede
telefônica criada pelo Major Carlino Comes da Silva, rede esta que interligava
Laje a Comendador Venâncio e durou de dois a três anos.9
O primeiro meio de comunicação
que existiu foi a missiva (mensagem) levada por homens que iam montados a
cavalos, a grandes e pequenas distâncias.
Associações:
Nos primórdios do século XX
surgiu em Laje uma sociedade anônima, que não foi registrada e tinha por nome
"Senhoras Piedosas". Eram senhoras da sociedade que levavam
alimentação, remédios, roupas e também apoio moral aos menos favorecidos pela
sorte.
A "Legião Brasileira"
funcionou de 1910 a 1920, sob a presidência da Sra. Augusta Comes da Silva.
Laje do Muriaé foi a primeira
localidade a fundar uma Loja Maçônica, nestas redondezas, no ano de 1870 e teve
como um dos seus presidentes o Pe. João Justiniano Teixeira de Carvalho. Esta
loja funcionou na rua principal e desapareceu por volta de 1879, devido ao
espírito religioso da população.
Esportes:
- Antes de 1900, os divertimentos
mais comuns eram: o jogo do pião, jogo da malha e o da peteca.
O Dr. Inácio Guedes Furtado Leite
iniciou o futebol, por volta de 1905, na comunidade.
Em 1910, foi fundado o primeiro
clube de futebol, "O Lajense". Mas, somente em 1916 este ficou
organizado. Em 1919, existiam dois clubes: O "Fluminense Futebol
Clube" e a "Associação Atlética Lajense", os quais mais tarde
fundiram-se formando o "Laje Esporte Clube". Este passou por uma fase
difícil, quase desaparecendo. O desportista Celso Pinto Côre reorganizou-o em
1939, melhorando sua técnica futebolística.
Em 1944, o "Laje Esporte
Clube" integrou-se na liga Itaperunense de Desporte (LID), sagrando-se
campeão.10
Religião:
Coube à religião Católica
Apostólica Romana a prioridade em Laje do Muriaé, visto congregar maior número
de pessoas. O primeiro templo construído foi a Igreja do Rosário, localizada no
Largo do Rosário, hoje Morro Pe. João. Esta foi erguida pelo povo e sem
autorização eclesiástica, razão pela qual rezavam somente ladainhas, uma vez
que não cabia ao clero designar um padre. Essa igreja teve pouca duração e logo
foi demolida.
A segunda igreja foi a Matriz
Nossa Senhora da Piedade, cuja data de fundação é ignorada, contudo, foi
reconstruída em 1909 e em 1926, A primeira reconstruçâo-1909, foi feita em
partes, sendo interrompida por falta de recursos financeiros.11
O primeiro vigário foi o Pe. João
Justiniano Teixeira de Carvalho. Com o tempo, o padre adquiriu a Fazenda Santa
Paz, abandonando a Freguesia. Os padres vinham periodicamente de Capivara
(Palma- MG) e Patrocínio do Muriaé, a fim de oficiarem os serviços religiosos.
O povo. não agradando da
situação, começou a queixar, sendo atendido. Foi quando veio para a Freguesia o
Pe. Antônio Martins Machado (São Caetano- MG). Este permaneceu até sua morte na
freguesia, sendo substituído pelo Pe. Manoel Lobato Carneiro da Cunha.
Em 1889. pela primeira vez, Laje
recebia um Bispô, D. Antônio de Macedo Costa. Para substituir o Pe. Lobato foi
nomeado o Pe. José Pires Ferreira de Moraes, vindo de Espírito Santo. Tendo
este falecido, foi substituído pelo Pe. João Batista dos Reis em 05 de agosto
de 1896, exercendo os ofícios religiosos até 1947, quando faleceu. sendo
substituído pelo Pe. José Brandao.12
"Desde o início da Igreja.
ainda no período monárquico. que em sua sacristia, era notório enterrar pessoas
de destaque. As lápides eram de mármores, com ricas inscrições. "As duas
últimas pessoas enterradas na sacristia da primeira igreja matriz de Laje do
Muriaé, foram: o fazendeiro José Basílio de Freitas, assassinado por um escravo
e o negociante Antônio Pires do Couto".
Nesta época. o cemitério
pertencia à igreja e pelo que se sabe. existia uma lei proibitiva às pessoas
não católicas de serem sepultadas no mesmo. Foi quando faleceu o engenheiro
Herman Neigle, natural da Suiça; sendo protestante (calvinista), não pôde ser
enterrado no cemitério.13
Existe também a Capela Santo
Antônio construída, no morro do mesmo nome.
Em 23 de agosto de 1931,surge a
religião Protestante Batista, com 100 membros e tendo como primeiro pastor o
Dr. Erodice de Queiroz. A nova igreja adotou o nome de Igreja Batista de Laje
do Mu riaé.14
Com a introdução de escravos nas
fazendas de Laje, a liturgia da seita africana umbandista viveu por muito tempo
praticamente omissa, até que, em 1890 teve inicio oficial. A mais importante
mãe-de-santo de Laje do Muriaé é a Sra. Maria Carreiro, que no decorrer de
muitos anos, vem processando o Espiritismo. tendo como sede o "Centro
Espírita São Sebastião", próximo à Fazenda Botafogo.
Aspecto Cultural:
Os portugueses aqui chegados, em
contato com o índio e com o negro, não se preocupavam com outra coisa, senão
com construções de fazendas, plantio, estradas, etc.
A chegada do Maestro Giuseppe
Mazzini em 1860, o qual havia sido professor na Corte de D. Pedro II e que teve
por aluna de harpa a Princesa Isabel, foi importantíssima. Homem de cultura
extraordinária e exímio musicista, modificou completamente a vida cultural
lajense, fazendo surgir saraus, onde predominavam o bom gosto na indumentária,
no canto e na música (especialmente o piano). Com o Maestro Mazzini, Laje teve
indubitavelmente o seu período áureo.15
O segundo período em que a
cultura lajense chegou a um amplo desenvolvimento, foi a partir de 1887 quando
a família do Dr. Emiliano Fagundes Varela, pai do notável poeta Luis Nicolau
Fagundes Varela, chegou a Laje com suas duas filhas: a poetisa Ernestina
Fagundes Varela e Maria Luísa Fagundes Varela, professora de renome.
Em 1886, o Sr. Tomé Távara,
chegou em Laje e procurou organizar uma sociedade dramática que denominou-se
"Sociedade Familiar Dramática da Laje do Muriaé"; esta funcionava na
rua Garcia Pereira.
Durante pouco tempo funcionou o
cinema mudo, com o passar do tempo e a atualização deste, ergue-se o prédio, na
rua Garcia Pereira. O cinema mudo teve como diretor o Sr. Nascimento.16
Laje do Muriaé, sempre possuiu
bandas de músicas. Estas eram organizadas pêlos fazendeiros, e os músicos, na
maioria, eram escravos. Só os regentes recebiam ordenado e eram homens livres.
As bandas tocavam gratuitamente.
A primeira banda do povoado foi
organizada pelo Sr. Francisco Tateri em 1881. Com o falecimento deste maestro,
o Sr. José reorganizou-a e mais tarde sob a regência dos Srs. Antônio Teixeira,
Francisco Teixeira e José Amâncio Garcia Bastos, foi denominada "Lira de
Ouro".
Em 1905 surgiu a "Lira
Lajense", sob a regência do abalizado Maestro Nicolino César Mazzini,
filho do notável Maestro Giuseppe Mazzini. Esta existiu até 1921.
Outra banda foi organizada em
Laje: "Sociedade Musical 5 de Novembro". Recebeu este nome em
homenagem à data natalícia do Pe. João Batista dos Reis. Esta sociedade musical
manteve-se graças aos esforços e compreensão de seus componentes.
Na manhã de 25 de outubro de
1953, Laje foi abalada por um incêndio, na sede da banda musical "5 de
Novembro", na praça Pe. Martins. Essa sede acolhia todo o arquivo dessa
associação musical deixado pelo Maestro Giuseppe Mazzini. Acredita-se que este
incêndio originou-se de uma ponta de cigarro. Devido ao amor dos lajenses pela
referida banda ser tão grande, em poucos meses o prédio foi reconstruído com
ajuda do povo em geral.
Manifestação Folclórica:
Lenda do Zê do Arrastado:
"Escravo foragido aos
trabalhos da fazenda do sinhô" mineiro ríspido e inflexível nos seus
ditames de senhor de escravo. Alcançado na fuga pelo feitor, que tinha carta
branca do patrão, seguiu-se o castigo imediato as chibatadas clássicas do
estilo...
O escravo, depois do castigo
preliminar, foi amarrado ao rabo de burro que se pôs a trote a caminho da Casa
da Fazenda. De mãos atadas, juntas, é certo que teria o escravo de correr,
também a fim de poder acompanhar a marcha do animal. Como castigo secundário,
estava proibido de alimentar-se e beber água tentadora que os córregos,
cortando de vez em quando o caminho, forneciam abundantemente, cantante e fresca...
No sopé do morro que domina ao
poente a localidade da Laje do Muriaé, houve paragem obrigatória do cavaleiro
e, logicamente, do séquito sinistro, a fim de que o feitor, mais do que
ninguém, descansasse um pouco.
O escravo não resistiu à tentação
da água clara e fria. Mal, porém, curvou-se a ela, sofregamente, na ânsia,
fisiológica de tragá-la, o feitor, para adverti-lo, do castigo preconizado,
vibrou-lhe larga e inesperada chibatada que zunindo, estalou-lhe no lombo...
O burro., que era meio arisco,
espantando-se com o gesto intempestivo e desastrado do feitor - deu de galopar,
desembestado, pelo morro acima, arrastando, entre as pedras da estrada, o
escravo que caíra por não ter podido acompanhar a carreira veloz do animal em
disparada...
Quando, no topo do morro, o
burro, por acaso, parou, ou se deteve, dominado de cansaço - o Escravo José,
tinha a cabeça esfacelada de chocar-se contra as pedras do caminho.
Naquele lugar, depois: mãos
piedosas ergueram uma cruz, .à margem da estrada para perpetuar a memória da
ocorrência, E, até hoje a Cruz do Zê Arrastado, no Morro do Pau-d' Alho, faz
milagres.
Quando a seca maltrata a
plantação, o sol calcina a terra e faz minguar todas as nascentes, prenúncio de
miséria, o povo, penitente, em charola, conduzindo pedras no alto da cabeça,
para abrandar e comover o coração de Deus; vão depositá-las ao pé da Cruz de Zê
Arrastado, suplicando chuva àquele escravo que morreu sedento.
Lenda do Basto Seco:
"A maldade de senhor de
escravos, às vezes, não tem limites e de tal modo se avantaja no mal que a
própria morte não é suficiente a encobrir os seus cometimentos. Assim aconteceu
a um daqueles Bastos, entre os muitos que viveram na Laje do Muriaé, conforme
registro de óbito em poder, "faleceu de consumpção" aos 30 anos de
idade.
Era homem terrível tinha o hábito
de infligir aos negros da fazenda os mais ásperos e hediondos castigos. Depois
de morto, haveria de pagar os crimes monstruosos que perpetuara contra os
escravos... Praga de Negro Velho!...
A terra não o comeu. Foi
encontrado na Matriz, local de seu sepultamento, quando lhe abriram a cova,
cinco anos depois, mumificado, seco. Enterraram-no de novo: anos depois foi
novamente desenterrado, ainda seco e duro. .. Recusava-se a terra de comê-lo.
Precisava de muita missa o Basto Seco, o tal cognome lhe deram. Levaram-no para
o cemitério onde foi sepultado mais uma vez. . . Reencontrado, lançado ao rio
e, sem querer, foi pescado abaixo, no poço do Remanso... Conduziram-no, afinal,
para o forro de uma casa velha, já que a terra e o rio negaram-lhe aconchego...
À noite, os ratos faziam barulho, sapateando dentro da sua carcassa ressecada.
Enterrado, depois, dentro da parede da casa da Escola Pública, a parede estufou
para fora, criando estranha barriga. . -
Não se sabe, hoje onde ele se
encontra, cumprindo seu misterioso fadário, mas, o que se sabe é que no forro
de toda casa velha, na Laje daquele tempo, havia Basto Seco, amedrontando,
assombrando crianças..!'
Educação:
A instrução na zona rural era
mantida por professores remunerados pêlos fazendeiros. Estes permaneciam nas
fazendas e atendiam a todas as séries, sem número estipulados de alunos e às
vezes excediam à carga horária. Os primeiros mestres de Laje do Muriaé, foram:
Francisco Mestre (conhecido como Chico), Sra. Clara Maldonado Leite, Maria
Luisa Fagundes Varela e Ernestina Fagundes Varela.
Laje possuía um colégio
particular, sob a direção de Maria Luísa Fagundes Varela, o qual desapareceu em
1889.
Antes de 1891 foi criado o
Colégio Macaúbas, particular, onde Carlos Silva e João Carlos Alvarenga atuaram
como professores.
A professora Guiomar Ramalho
Gomes também possuiu uma escola particular, onde só estudavam pessoas do sexo
feminino.
Surge o Colégio Nossa Senhora da
Piedade, em fevereiro de 1910, tendo como Diretora a Sra. Emília Diniz Ligiéro.
Tal colégio tinha como regime o semi-internato e funcionava na residência da
diretora. Em 1940 suas portas foram fechadas.
Mais adiante surgiram na zona
rural, escolas mantidas pela Prefeitura, num total de 07 escolas, abrangendo o
número de 174 alunos.
Existiu também o Colégio das
Marietas destinado ao sexo feminino, onde ensinavam tricô, croché, bordado,
etc.
O grupo Escolar Comandante Ary
Parreiras foi criado em 1937.
Havia também 07 Escolas Estaduais
Isoladas, funcionando na zona rural, com 270 alunos no total.
O Ginásio Maestro Mazzini, tinha
em anexo a Escola Normal Álvaro Diniz e o Curso Primário. A princípio, este
funcionava no prédio do Grupo Escolar Comandante Ary Parreiras, mais tarde, em
1952. foi inaugurado seu próprio prédio, na rua Ferreira César, tendo como
primeira diretora a Sra. Maria Clara Diniz Ligiéro Coelho.
Em 1960, formou-se a primeira
turma de professores da Escola Normal Alvaro Diniz.
O Ginásio Maestro Mazzini
pertenceu à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos e foi criado pela
Portaria n.º 127 de 10 de fevereiro de 1953, do Ministério da Educação e
Cultura.
Saúde:
Antes da República, Laje possuía
três farmácias: a do Sr. Antônio Lobo, criada mais ou menos em 1870, situada no
centro da principal rua. Com aparecimento da farmácia do Sr. Manoel Xavier de
Souza, a do Sr. Lobo desapareceu. Anos depois, o Sr. Carolino Gomes da Silva
instalou a "Farmácia Confiança", no largo da Matriz. Em 1887 o
farmacêutico José Lopes da Costa Souza Júnior, estabeleceu-se em Laje com sua
farmácia "Lopes Júnior, sendo substituído, após sua morte, pelo
farmacêutico Manoel Costa da Gama Vilas Boas. Este, não julgando compensadores
os lucros obtidos na farmácia, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando sua
farmácia para o Sr. Álvaro Augusto Moraes Diniz, em 1890.
Laje foi assolada duas vezes por
grandes epidemias: a de 1871 (cólera mórbus), em que não se podia formar
diagnóstico porque a febre era complicada pela hepatite e icterícia. A de 1917
foi um epidemia da gripe denominada espanhola.
No final do século XIX, o Dr.
Fernandes Figueira iniciou Clínica em Laje.
Contou a localidade lajense com
um Posto de Higiene, a Maternidade Abílio Gaberto, o asilo "Amparo à
Velhice e Alberto Noturno". O Posto de Higiene, criado em 1942, tinha em
anexo uma maternidade e também fornecia remédios, dietas e serviços médicos
gratuitos. Destacou-se o Dr. Ary Gomes Rosmaninho.
Em 15 de agosto de 1948, às 16 horas
no salão do Posto de Higiene foi criada a Associação de Proteção à Maternidade
e à Infância, sob a presidência da Sra. Lizete Sette Marinho.
Nota de rodapé
1.- Vig. Antônio Martins Machado.
2-Major Porphfírio Henrique:. A
Terra da Promissão p.317.
3 - Entrevista com o Poeta Sol
Sobral
4 - Município em Destaque. Estado
do Rio de Janeiro.1983.
5 - Manoel Ligíero. O Homem, o
Rio e a Terra. p.41.
6 - Ibid.
7 - Leopoldo Muylaert. Álbum do
Município de Itaperuna.
8 - Manoel Ligiéro. O Homem, o
Rio e a Terra. p. 175.
.9 - M. Caspary. Há mais de meio
século.P.130/131.
10- H. M. Caspary. Há mais de
meio século. p.130/131.
11 - Major Porphírio Henriques. A
Terra da promissão p. 318/319.
12 - Ibid.
13 - H. M. Caspary. H mais de
meio século. p.130/130/131
14 - Ibid.
15 - Entrevista com o Sr. Delio
Nolasco.
16 - Entrevista ao Sr Wilson
Garcia Bastos.
17 - Manoel Ligiéro. O Homem, o
Rio e a Terra
18 - Ibid.
Nenhum comentário:
Postar um comentário