quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O que podemos aprender sobre traição e violência com o caso de Fabíola? Por Nathalí Macedo


Nos bons tempos
Nos bons tempos

O caso da mineira que traiu o marido com seu melhor amigo deveria ser só mais um adultério a ser tratado entre quatro paredes, no mais íntimo da vida conjugal do casal, mas acabou viralizando na internet quando o marido traído filmou a cena e espalhou o vídeo nas redes sociais.
Na filmagem, ele – que flagrou a esposa saindo do motel com seu melhor amigo – agride a esposa enquanto um outro amigo filma a cena e incita a briga.
O que choca na situação não é a desnecessária publicidade de uma questão íntima: isso transformou-se em uma praxe mais natural do que deveria na internet. As pessoas deturpam a finalidade das redes sociais quando expõem-se desnecessariamente nas mais esdrúxulas situações.
O que me deixou realmente estupefata na mais nova bizarrice das redes sociais é a naturalidade com que um homem, em pleno século XXI – quando as discussões sobre violência contra a mulher estão a todo o vapor – publiciza uma agressão física na rede sem nenhum tipo de represália.
O enfoque da viralização do vídeo não é a agressão pública – física e verbal – sofrida pela mulher, exposta e agredida em plena rede – mas a condenação moral pela traição – que, embora reprovável, não diz respeito a ninguém mais além dos envolvidos. A agressão, ao contrário, é recebida como natural, uma reação justa e proporcional ao adultério.
As pessoas estão tão preocupadas em julgar a vida íntima alheia que não se dão conta do quão absurdo é agredir uma mulher e levar isso a público sem medo das conseqüências.
Acaso um homem fosse flagrado saindo de um motel com a melhor amiga de sua esposa, este seria apenas mais um dia comum na internet. A indignação, caso houvesse, certamente se concentraria na amiga que “deu em cima de um homem comprometido”, ou na esposa omissa que foi traída porque “não dá conta de segurar um homem” – jamais na figura do pobre homem adúltero. Afinal, a carne é fraca e os ‘instintos masculinos’ justificam a traição.
Mas quando uma mulher é flagrada traindo seu marido, a moralidade seletiva impera de tal forma que até mesmo a violência física escancarada nas redes sociais é ignorada diante do ‘absurdo’ do adultério.
As pessoas respeitam a vida íntima do outro quando ouvem um vizinho agredindo sua esposa (não vou chamar a polícia, eles que se resolvam!), quando assistem a um relacionamento abusivo (só ela pode se livrar do marido opressor!) – mas quando presenciam o ‘erro’ de uma mulher, esquecem-se da sagrada intimidade conjugal e julgam-na nas redes sociais.
Este é o retrato da hipocrisia moderna: a vida sexual do outro indigna, a violência não. O que esperamos de uma sociedade tão moralista é que empenhe toda esta retidão para meter a colher nos relacionamentos agressivos e opressores, mas a moralidade do patriarcado só se aplica à mulher.
Não estamos aqui para determinar se  traição é ou não reprovável – por mais natural que seja escancarar a própria vida na internet, não podemos nos quedar diante desta realidade: a vida sexual do outro não nos diz respeito. A violência, sim.

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